22/08/2023
Cotidiano

Abuso e bebedeira cercam o Parque do Lago

imagem-9946

Guarapuava – Moradores do entorno do Parque do Lago estão indignados com o barulho que vem sendo promovido por jovens que fizeram desse espaço o novo “point” nas madrugadas, principalmente dos finais de semana.
À noite, especialmente entre zero hora e seis da manhã, aquele que de dia é um aprazível espaço público muda a sua paisagem.
O parque, que durante os finais de tarde é espaço para a caminhada de famílias, dá lugar a outra cena ao transformar-se em local de reunião de jovens da classe média, que segundo moradores do entorno do Parque do Lago, são “filhinhos de papai, baderneiros que se julgam acima da lei”.
Para um dos moradores do local, que preferiu não se identificar para não sofrer represálias, por já ter sido ameaçado, “são verdadeiros marginais, que lá se reúnem com suas namoradas barulhentas, cada um querendo exibir uma caixa de som maior que a do outro”.
A competição inferniza os moradores diariamente, que reclamam da falta de sossego. “Perdemos o nosso direito de dormir à noite, pois precisamos trabalhar de dia, porque não temos papai e mamãe para nos sustentar”, desabafa uma das vítimas que procurou a Tribuna.
No início, era apenas nos fins de semana, provavelmente com um grupo desviado do “bobódromo” da Rua XV, onde ainda existe algum tipo de controle.
Estimulado pela falta de fiscalização, o abuso atualmente se estende por todas as noites, com um aumento insuportável entre sexta e domingo. É o som em altíssimo volume, que faz tremer as janelas das residências vizinhas.
Gritaria, baderna, e consumo de bebidas alcoólicas em grande quantidade, entremeados de buzinaços, e rachas com pneus “cantando”, compõem as cenas que são vistas por moradores da região e por pessoas que por ali passam. “É o velho exibicionismo de uma geração sem educação, sem respeito, sem controle, e portanto sem rumo”, observa um dos moradores.
Segundo um morador insone, o fato é um dos subprodutos negativos da transformação de Guarapuava em pólo de ensino superior. “A agressividade, o pouco caso, e a desfaçatez com que eles se comportam, são típicos de menininhos e menininhas de classe média alta que estudam longe da casa dos pais, e por isso se sentem liberados de qualquer responsabilidade e, a bordo de seus carrões envenenados, imunes a qualquer autoridade”, disse outra vítima.
Recentemente, um outro cidadão relatou à Tribuna que, ao passar no local tarde da noite, foi obrigado a parar o carro porque as dezenas de garrafas espalhadas na pista impediam a passagem sem risco de acidente. Ao pedir que alguém retirasse algumas delas, para que pudesse passar, ainda foi xingado e ameaçado.
“Com a saída dos carros dali, ao clarear o dia, dirigidos por motoristas completamente embriagados, imagine-se o risco para quem tiver o azar de cruzar com eles nas ruas”, interveio outro morador.
Segundo declarou à Tribuna um dos moradores que não consegue mais dormir à noite, o “mais grave” acontece quando a Polícia Militar é acionada. Ele conta que de nada, adianta ligar para o 190. “Quando a viatura vem, o que nem sempre acontece, chega com o giroscópio ligado, anunciando sua chegada várias quadras antes. Obviamente alertados, o som é desligado, e os policiais “nada encontram” de irregular. Assim que a viatura vai embora, o som recomeça”.
Na semana passada, o cidadão chamou mais uma vez o 190, sugerindo que chegassem com o giroscópio momentaneamente apagado, para possibilitar o flagrante, e se comprometeu a acompanhar a diligência e registrar o Boletim de Ocorrência. “O velho ritual de sempre se repetiu. Eles (policiais) chegaram com o giroscópio ligado, os carros de som foram rapidamente desligados, e os policiais alegaram não poder fazer nada mesmo diante da insistência do reclamante, que se propunha a assumir a responsabilidade. Fizeram contato com o comando, e trouxeram a confirmação: se prendessem alguém apenas com a denúncia, sem que eles mesmos ouvissem o som ligado, isso caracterizaria abuso de autoridade. “Ou seja, a palavra, mesmo legalmente corroborada num BO, do cidadão lesado, não vale nada. Estamos sendo obrigados a dormir de dia”, disse outra pessoa que reside no local há mais de 30 anos
“Já tentei conversar com alguns baderneiros e me senti humilhado. Eles me encaravam com ironia como se o marginal fosse eu, um grande idiota. É mais um retrato do Brasil, onde certas leis só se aplicam nas periferias, nas favelas, contra os pobres. Vamos encaminhar um oficio ao comando geral da PM ”, conclui ele, revoltado.
Segundo o tenente Rodolfo Kredens, assessor de Comunicação Social do 16º Batalhão da Polícia Militar, a função da PM é o patrulhamento ostensivo, por isso, a presença do giroflex ligado se faz necessária. “Quando há uma ocorrência e a viatura da PM se aproxima com o giroflex acionado a bagunça cessa”, diz o tenente.
De acordo com o policial, no caso de perturbação de sossego é preciso a participação da sociedade. “O reclamante tem que representar contra quem está incomodando. Ele deve pegar as características do veículo, por exemplo, entrar em contato com a polícia e acompanhar a equipe. Só assim será possível tomar alguma atitude”, explica o tenente.

Cristina Esteche

Jornalista

Relacionadas

A missão da RSN é produzir informações e análises jornalísticas com credibilidade, transparência, qualidade e rapidez, seguindo princípios editoriais de independência, senso crítico, pluralismo e apartidarismo. Além disso, busca contribuir para fortalecer a democracia e conscientizar a cidadania.