22/08/2023




Blog da Cris Guarapuava

Guarapuava sob nova direção!

A dinâmica política em Guarapuava após as eleições municipais revela nuances profundas de alianças estratégicas e reconfiguração de poder

Equipe de vereadores pró-Biatla como deputado Artagão Junior e Leonardo Mattos leão (Foto: Reprodução/redes sociais)

A dinâmica política em Guarapuava após as eleições municipais revela nuances profundas de alianças estratégicas e a reconfiguração de poder. O grupo que venceu as eleições não está satisfeito apenas com a conquista da prefeitura. Isso porque, há uma movimentação intensa em busca de coalisão também na Câmara Municipal. Esse cenário se desenrola com estratégias de busca de apoio de vereadores, eleitos e reeleitos. Trata-se de uma tentativa de assegurar apoio interno ao novo prefeito. Denilson Baitala (PL), prefeito eleito, ao que tudo indica, atualmente possui a minoria dos vereadores, o que pode inviabilizar a governabilidade e a implementação do plano de governo.

Equipe de vereadores pró-Biatla como deputado Artagão Junior e Leonardo Mattos leão (Foto: Reprodução/redes sociais)

Interessante observar que Márcio Carneiro (CD), antes líder firme da bancada de Celso Góes, já surge em fotos ao lado do recém-eleito Denilson Baitala e a futura bancada de vereadores. Na política, parece que o jogo de alianças se inicia antes mesmo que as cadeiras esfriem. Seria uma questão de visão estratégica ou apenas o instinto de estar sempre bem posicionado nas fotos certas?

Essa reconfiguração de alianças, sem que Carneiro tenha oficialmente renunciado à liderança, revela um pragmatismo que, na prática, suaviza a linha de oposição ao novo governo. Mais do que uma mudança isolada, essa transição aponta para uma tendência de alinhamento oportunista. Ou seja: antigos apoiadores de Góes, por fidelidade ou por conveniência, já começam a procurar espaço e segurança junto ao novo comando. Afinal, na política, as lealdades se mostram flexíveis, especialmente quando novas possibilidades entram em cena.

Marcio Carneiro (Foto: Arquivo/RSN)

REALINHAMENTO DE BANDEIRAS

Outros vereadores que, até então, mantinham vínculos estreitos com a antiga administração — garantindo cargos e estabilidade no processo — também começam a realinhar as bandeiras. Curiosamente, alguns que estavam publicamente ao lado de Celso Góes agora aparecem ao lado de Baitala, enquanto outros, que hesitavam em se definir, já começam a descer do muro e saltar para o lado vencedor. Esse reposicionamento revela uma tendência política orientada mais pela busca de segurança e vantagens do que por convicções claras. Em um cenário ideal, a coerência prevaleceria desde o início. Contudo, as conveniências do jogo político frequentemente se mostram mais atraentes do que a integridade dos compromissos assumidos, relegando a segundo plano as promessas e ideais que os eleitores acreditavam estar respaldando.

INCOMODA

Pedro Moraes (Foto: Assessoria parlamentar/Câmara)

Outro ponto de tensão nesta disputa é a posição de Pedro Moraes (MDB). Agora, muitos o rotulam de ‘esquerdista’, e até circulam rumores — especialmente entre os menos informados — sobre uma suposta candidatura dele pelo PT nas próximas eleições. Esse discurso parece ter um propósito claro: isolá-lo do cenário político local. No entanto, a crescente resistência a Moraes também sinaliza o receio que ele desperta como potencial opositor da nova administração, sustentando uma postura de independência que incomoda.

A pressão para alinhar a presidência da Câmara ao novo governo também gera desconforto e críticas. A Câmara, como instituição legislativa, deveria manter uma postura independente, servindo como um canal de diálogo e fiscalização em relação ao Executivo.

No entanto, a tentativa de atrelar a liderança ao novo prefeito revela uma inclinação para centralizar o poder, comprometendo a autonomia essencial para uma democracia saudável. Uma Câmara ‘domesticada’ corre o risco de se tornar mero braço do Executivo, esvaziando a função de fiscalização e desbalanceando o jogo democrático. No final, é a representatividade que sai perdendo, e com ela, o equilíbrio de um sistema que se pretende plural e fiscalizador.

AMBIGÜIDADE

Rosangela Virmond (Foto: Reprodução/redes sociais)

Enquanto alguns vislumbram uma fresta do novo sol, a vice-prefeita eleita Rosangela Virmond, que anteriormente ocupava o cargo de secretária de Assistência Social na gestão de Celso Góes, parece hesitar entre as luzes da nova administração e as sombras do governo anterior. Na posição de vereadora, Virmond votou a favor do PL 18/2024, que altera a estrutura de cargos comissionados e ajusta o Plano de Cargos e Salários da prefeitura. Uma medida que, na prática, pode comprometer diretamente a capacidade de governança do futuro prefeito, Denilson Baitala, ao qual ela, supostamente, estará ‘subordinada’ como vice.

Esse posicionamento levanta uma questão instigante: estaria Virmond, consciente ou inadvertidamente, votando contra a administração da qual fará parte? Ou seria esse voto um reflexo de uma ambiguidade sobre o novo papel político dela? A aparente indecisão de Virmond coloca em evidência as dificuldades de transição e a complexidade das lealdades políticas, deixando em aberto se a atuação seguirá alinhada ao projeto de renovação do novo governo ou se continuará, de certa forma, ligada aos compromissos de atuação passada dela.

Em síntese, o cenário pós-eleitoral em Guarapuava lembra uma verdadeira ‘gaiola de loucos’, onde os papéis políticos parecem embaralhados e os compromissos, frágeis. Em vez de uma postura clara e alinhada com as demandas da nova gestão, muitos políticos seguem oscilando entre alianças antigas e novas, criando um ambiente de incertezas. Projetos que poderiam fortalecer o governo acabam sendo usados como ‘moeda de troca’, e as lealdades se mostram flexíveis demais. Nesse contexto, interesses pessoais e estratégias de poder sobrepõem-se à independência institucional, fazendo com que a governança local pareça mais voltada para jogos de influência do que para o benefício da cidade.

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Cristina Esteche

Jornalista

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