22/08/2023
Brasil Cotidiano

Saiba quais barragens no estado de São Paulo correm risco

Para evitar acidentes como os ocorridos em MG, Estado começou fiscalização em 24 das 66 barragens cadastradas

barragens em são paulo - divulgação

(Foto: Divulgação)

Desde as tragédias em Brumadinho e Mariana, em Minas Gerais, aumentou a preocupação com a segurança das barragens de minério em todo o país. Nelas ficam depositados os rejeitos, ou seja, as sobras que restam após o processo de separação do minério. Ao todo, 66 barragens estão cadastradas em São Paulo. Dessas, nove estão localizadas na capital e na Grande São Paulo.

A fiscalização se intensificou após 2015 e envolveu 24 barragens em São Paulo: 2 na Zona Norte da capital, 7 na Grande São Paulo e 15 no interior. Realizada pelo governo estadual, a classificação levou em conta as condições físicas e o potencial de dano que as barragens podem causar em caso de rompimento. O relatório revelou que nove estão na categoria “C”, o que significa risco médio, o mesmo das barragens de Mariana e Brumadinho.

A maior barragem vistoriada em São Paulo fica em Alumínio e guarda 20 milhões de metros cúbicos de lama vermelha, que abriga rejeitos da produção de alumínio. Em uma área de um quilômetro quadrado, a contenção foi avaliada como de baixo risco, mas, caso rompa, o estrago pode ser grande, devido ao grande volume armazenado e pela proximidade com uma área urbana.

Caso uma tragédia ocorra, ainda não há previsão para o plano de emergência ser implementado e moradores de bairros vizinhos afirmam que nunca receberam nenhum tipo de instrução. A última vistoria da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) aconteceu em 2018. No relatório foi atestada a segurança da barragem e a Companhia afirma que está acompanhando o plano de emergência. Como a maior parte dos rejeitos são sólidos, há diminuição do risco de vazamento.

Em Perus, na zona norte de São Paulo, há duas barragens de rejeitos. Elas pertencem à Pedreira Juruaçu (da Embu S/A) e Clarificação (da Territorial São Paulo Mineração), respectivamente, para extração de brita e areia. De acordo com a Agência Nacional de Mineração (ANM), ambas as estruturas foram avaliadas como potencial de dano alto, em caso de rompimento.

Fiscalizadas em 2017, elas apresentaram uma série de irregularidades. A Pedreira Juruaçu não possuía o mapa de inundação e nem plano de alerta para a população, em caso de acidentes. Por outro lado, por ser uma barragem que usa o método ajustante (o mais caro e o mais seguro), os laudos exigiram apenas quatro adicionais de segurança e alguns esclarecimentos.

Já a barragem de Clarificação, que está inativa há mais de um ano, possui anomalias e um estado de conservação ruim, com riscos de infiltração, sinais de erosões e falta de sistema de drenagem. Segundo a empresa, treze das catorze exigências da ANM foram cumpridas.

Em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, existem 16 barragens de minérios e três delas estão inscritas na Política Nacional Sobre Barragem (PNBS), por apresentarem risco médio ou alto em caso de um rompimento. O plano visa manter a segurança dos locais analisados e reduzir a possibilidade de tragédias como a de Brumadinho.

Voltadas para exploração de granito, duas barragens ficam no bairro da Pedreira. De acordo com a ANM, a chance de rompimento delas é baixa, mas o poder de destruição, caso rompam, é alto. Uma delas possui quase 30 metros de altura e quase 400 mil metros cúbicos de volume de rejeitos armazenados. A segunda mede quase 10 metros de altura e possui mais de 150 mil metros cúbicos armazenados.

A terceira barragem em Mogi das Cruzes fica no distrito do Taboão e armazena mais de 330 mil metros cúbicos de rejeitos da produção de areia no local. Com 12 metros de altura e avaliada como risco médio, o reservatório utiliza o método de alteamento em linha de centro (mais seguro que o método de alteamento a montante, como o de Brumadinho). A empresa de minério JBS, responsável pela barragem, informou recentemente que a estrutura será desativada em breve e que realizou uma série de iniciativas para redução de riscos em épocas chuvosas.

Atualmente o Brasil possui 24.092 barragens registradas. Desse total, 3.545 foram classificadas segundo a Categoria de Risco (CRI) e 5.459 quanto ao Dano Potencial Associado (DPA) e 723 (ou 3%) foram classificadas simultaneamente como de CRI e DPA altos, segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), em um relatório sobre a segurança das barragens.

Embora os riscos sempre existam, mesmo em métodos de armazenamento mais seguros (como barragem à jusante, barragem linha de centro e depósito de rejeitos a seco), é de suma importância que empresas mineradoras e órgãos fiscalizadores acompanhem constantemente a segurança das barragens. Essa deve ser uma preocupação recorrente, visto que os impactos de possíveis rompimentos podem levar a grandes tragédias do ponto de vista social, ambiental e econômico.

Gilson Boschiero

Jornalista

Possui graduação em Jornalismo, pela Universidade Metodista de Piracicaba (1996). Mestre em Geografia pela Unicentro/PR. Tem experiência de 28 anos na área de Comunicação, com ênfase em telejornalismo e edição. Foi repórter, editor e apresentador de telejornais da TV Cultura, CNT, TV Gazeta/SP, SBT/SP, BandNews, Rede Amazônica, TV Diário, TV Vanguarda e RPC. De 2015 a 2018 foi professor colaborador do Departamento de Comunicação Social da Unicentro - Universidade do Centro-Oeste do Paraná. Em fevereiro de 2019, passou a ser o editor chefe do Portal RSN.

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