Por Sergio Matsuura para O Globo
Vaticano – O Papa Francisco anunciou que a canonização de 30 novos santos brasileiros foi aprovada. Em decreto publicado nessa quinta (23) a Santa Sé incluiu os mártires de Cunhaú e Uruaçu, no Rio Grande do Norte, na lista de beatos que serão santificados. Com a decisão, os padres André de Soveral e Ambrósio Francisco Ferro, junto a Mateus Moreira e outros 27 leigos, entrarão no rol de adoração da Igreja Católica.
O processo de canonização estava na Congregação para a Causa dos Santos, no Vaticano, desde o segundo semestre de 2015, por indicação do próprio Papa Francisco. De acordo com a Arquidiocese de Natal, em outubro do ano passado, o Núncio Apostólico no Brasil, Dom Giovanni D’ Aniello, esteve na região e conheceu os locais dos martírios, e pode presenciar a devoção aos beatos.
"É com sentimento muito elevado que recebemos a canonização dos nossos mártires. Trata-se de um processo que há muito vinha se desenvolvendo, e que tomou corpo definitivamente a partir da beatificação", disse Dom Jaime Vieira Rocha, arcebispo de Natal.
Os mártires foram vítimas de dois assassinatos em massa cometidos em 1645, durante as invasões holandesas. O primeiro massacre aconteceu no dia 16 de julho daquele ano, durante uma missa dominical numa capela no Engenho de Cunhaú, no atual município de Canguaretama. Segundo relatos históricos, após o padre André de Soveral dar início à cerimônia, Jacob Rabbi, um alemão a serviço da Companhia das Índias Ocidentais Holandesas, trancou as portas da igreja e, com uma tropa de índios Tapuias e soldados, ordenou a matança de todos os fiéis.
O segundo massacre aconteceu três meses depois, no dia 3 de outubro, em Uruaçu, hoje parte do município de São Gonçalo do Amarante. Com as notícias sobre o ocorrido em Cunhaú, alguns católicos buscaram refúgio numa fortificação construída no pequeno povoado de Potengi, mas foram atacados pelas tropas de Rabbi. Eles resistiram, mas acabaram se rendendo e foram massacrados às margens do rio Uruaçu. Entre os mortos estavam o padre Ambrósio Francisco Ferro e o camponês Mateus Moreira.
De acordo com os relatos históricos, os invasores holandeses ofereceram aos fiéis católicos a opção de conversão ao calvinismo, mas eles escolheram o martírio. Foram dezenas de mortos nos dois episódios, mas apenas 30 tiveram o processo de beatificação aberto em maio de 1988. No dia 5 de março de 2000, na Praça de São Pedro, no Vaticano, o então Papa João Paulo II beatificou os 28 leigos e dois sacerdotes.
"Naquele imenso país, não foram poucas as dificuldade de implantação do Evangelho", disse o Pontífice, na ocasião. "André de Soveral, Ambrósio Francisco Ferro e 28 companheiros leigos pertencem a esta geração de mártires que regou o solo pátrio, tornando-o fértil para a geração de novos cristãos. Um deles, Mateus Moreira, estando ainda vivo, teve arrancado o coração pelas costas, mas ele ainda teve forças para proclamar a sua fé na Eucaristia dizendo: Louvado seja o Santíssimo Sacramento."
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