22/08/2023
Brasil Geral

Para psicólogo, jogo não tem influência direta sobre suicídio

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Da Redação

Guarapuava – O jogo ‘Baleia Azul’ e a série 13 Reasons Why, fenômeno da NetFlix, trazem à tona o debate sobre o suicídio, principalmente, entre adolescentes.

Nessa terça (18), o youtuber Felipe Neto assumiu publicamente que sofre de depressão e defendeu a importância da discussão sobre o tema, incluindo o debate sobre o suicídio.

A Associação Paranaense de Psiquiatria também divulgou nota sobre o que chamou de “glamourização” do suicídio.

O suicídio é um tema complexo, cheio de tabus e deve ser tratado com responsabilidade, delicadeza e, principalmente, com o apoio de profissionais especializados.

Também conhecido pela abreviatura "13rw", o seriado, baseado no livro homônimo lançado em 2007, conta a história de Hannah Baker, uma adolescente que se suicida. Na história, a personagem aponta os motivos (como bullying e estupro) e as pessoas "culpadas" pelo ato.

De acordo com a entidade, a série 13 Reasons Why peca por não abordar a questão do adoecimento mental da personagem, não provocar diálogos sobre como o desfecho dela poderia ser evitado e principalmente por dar a impressão de que buscar ajuda é inefetivo.

"SOMATÓRIA DE FATORES"

Em Guarapuava, o professor de Psicologia da Faculdade Guairacá, Humberto Oliveira Ausec, diz que a pessoa que tem pré disposição para tirar a própria vida, não precisa de um jogo ou de uma série para  cometer o ato. “Essa pessoa não deve estar tendo uma vida que goste, se sente insatisfeita. Se uma pessoa comete o suicídio e deixa uma carta dizendo que a causa foi a perda do namorado, por exemplo, esse motivo foi apenas o resultado de uma ideia que vinha sendo construída”. De acordo com o psicólogo, fatos como o “Baleia Azul”  e a série na NetFlix, entre outros, podem contribuir, “sob o ponto de vista do suicida, a tomar uma decisão mais drástica num processo que já vem acontecendo há tempos. É uma somatória de fatores”.

Embora o adolescente não esteja no fator de risco do suicídio, tendência que aumenta à medida em que a idade avança – sob o ponto de vista endêmico – , entretanto, se faz necessário que pais fiquem atentos à mudança de comportamento dos filhos. “Isolamento, tristeza frequente, frases negativas são alguns indícios”. De acordo com o psicólogo, o suicida constrói o sue planejamento, produz a forma, por muito tempo.  “Há uma escalada de comportamento que são identificáveis. Dizer que o suicida não avisa o que vai fazer é mito. Cerca de 90% das pessoas que se suicidaram já tinham dado pistas claras do que pretendiam fazer”.

NOTA DA APPSIQ

"A Associação Paranaense de Psiquiatria (APPSIQ), Federada da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), vem a público manifestar-se a respeito da série 13 Reasons Why, baseada no best-seller “Os 13 porquês”, de Jay Asher, e lançada pela plataforma de streamming Netflix.

Considerando que as obras de ficção simbolizam a vida real e podem contribuir para fomentar discussões de temas importantes para a sociedade, a APPSIQ manifesta satisfação em constatar que um seriado que trata de bullying, depressão e suicídio entre adolescentes tenha provocado alta de 170% nos acessos ao Centro de Valorização da Vida (CVV), que há 55 anos atua na prevenção do suicídio no Brasil.

No entanto, levando em consideração que a Organização Mundial de Saúde (OMS) relata que mais de 90% dos suicídios estão relacionados com transtornos mentais e que a maioria dos óbitos poderia ser evitado se houvessem estratégias de prevenção mais acessíveis à comunidade, a série “13 Reasons Why” peca por não abordar a questão do adoecimento mental da personagem, não provocar diálogos sobre como o desfecho dela poderia ser evitado e principalmente por dar a impressão de que buscar ajuda é inefetivo.

Além disso, a “glamourização” do suicídio e a utilização do autoextermínio como instrumento de vingança provocam o chamado efeito Werther – termo científico pelo qual a publicidade de um caso notável serve de estímulo para novas ocorrências, contribui para a difusão do método, apologia ou idealização do ato. Embora a série apresente a agonia dos que ficam – afinal, um suicídio afeta pelo menos outras seis pessoas de convívio direto com o autor -, ela atrela o suicídio à ideia de culpabilização.

O suicídio é um tema complexo, cheio de tabus e deve ser tratado com responsabilidade, delicadeza e, principalmente, com o apoio de profissionais especializados. Para os que se identificam com a personagem ou já pensaram em suicídio, a APPSIQ reitera que busquem a ajuda de um psiquiatra e coloca todos os seus meios de comunicação à disposição da sociedade.

Dr. Osmar Ratzke

Diretor Presidente da Associação Paranaense de Psiquiatria (APPSIQ)"

Cristina Esteche

Jornalista

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