22/08/2023


Brasil Geral

‘Não aceitamos pedinte’

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Por Louise Queiroga, para O Globo

São Paulo – O pai de uma menina de 11 anos relatou em seu perfil do Facebook um episódio de discriminação racial vivenciado por sua filha em uma loja da rede Starbucks na Alameda Santos, em São Paulo. Jorge Timi, curitibano de 59 anos, contou que um segurança do estabelecimento segurou o braço da criança e disse: "Você precisa sair pois não aceitamos pedintes".

A empresa afirmou, por meio de nota, que está "realizando uma apuração completa do ocorrido" e que a acusação não condiz com seus valores e princípios. "Não descansaremos até esclarecer os fatos e, se constatado algum desvio, identificaremos os responsáveis e tomaremos as providências cabíveis", respondeu a Starbucks.

"Na noite de 15 para 16, ela teve muita dificuldade para dormir. Ficou com uma sensação de culpa, perguntando: "O que eu fiz de errado?". Claro que ela não fez nada de errado. Isabela é uma menina fantástica, carinhosa. A gente tem dado muito apoio para ela", afirmou Jorge ao Globo.

O pai da criança disse ainda que estava com sua mulher, o outro filho deles, de 2 anos, e a sogra, em um final de semana prolongado na capital paulista para aproveitar as férias das crianças em família. A menina pediu para tomar um chocolate na Starbucks. Sentados à mesa, Isabela se levantou para ir ao banheiro, conforme relatou seu pai. Foi nesse momento que, conforme Jorge disse, o funcionário a abordou.

"O segurança segurou a mão dela e disse: "Você precisa sair pois não aceitamos pedintes". Ele deu uma olhada geral na loja e perguntou: "De quem é essa criança?". Eu, então, respondi: "É minha filha". Primeiro, o segurança falou que tinha cliente reclamando da presença dela, depois disse que foi ordem da gerente. Fomos falar com ela, que nos respondeu assim: "O senhor me desculpe, mas nós só estávamos seguindo normas da empresa", afirmou Jorge, ressaltando que pretende agora entrar com um processo civil contra a Starbucks.

Ele disse que uma ocorrência sobre o caso já foi registrada na delegacia.

"Tivemos um sábado muito agradável antes do incidente, mas nem saímos do hotel naquela noite para jantar, porque não tinha clima", frisou o médico.

Casado com Tatiane Time, de 35 anos, há seis anos, Jorge disse que sua mulher já havia entrado com o pedido de adoção da menina quando eles se conheceram. Aos 3 meses de idade, Isabela tornou-se filha do casal. Jorge afirmou que essa não foi a primeira vez que a menina passou por uma ocasião desse nível. Moradores de Curitiba, o médico e advogado contou que já viu sua filha passar por várias situações de discriminação racial.

"Nós sabíamos as dificuldades que enfrentaríamos. Já passamos várias situações de discriminação racial. Este país discrimina as pessoas, mas não esperávamos passar por isso. Moramos em Curitiba, eu, minha mulher, Isabela e Rafael, que vai fazer três anos. Mas por ele ser loiro e de olhos azuis, não sofre discriminação", salientou Jorge.

Para a família, a divulgação da história está sendo desgastante, mas Jorge explicou que divulgou o relato no Facebook virando promover uma consciência social.

 

"A Isabela nasceu do nosso coração. Estamos evitando falar disso perto dela porque foi um acontecimento que a deixou bastante abalada", disse Tatiane ao Globo, por telefone, ao que Jorge completou dizendo que conversará com a orientadora pedagógica da escola onde Isabela estuda. "Ela também tem uma psicóloga para ajudá-la a lidar com essas situações", acrescentou o médico.

"Agradecemos à Policia Militar pela presteza do atendimento para registrar a ocorrência e as pessoas ficaram solidárias e se prontificaram a testemunhar na ação penal já em andamento.Não podemos tolerar a discriminação racial em nosso país. Pedimos aos amigos que compartilhem e divulguem. Isto não pode e não ficará assim", escreveu o pai de Isabela na rede social.

Leia abaixo, na íntegra, o posicionamento da empresa:

“Nós da Starbucks® entendemos que nosso propósito vai muito além de fornecer aos nossos clientes uma bebida preparada de forma perfeita. Nossa atividade, na verdade, mexe com a conexão humana. Nossos partners são preparados para se envolver com nossos clientes, dialogar e rir com eles, ainda que por apenas alguns minutos.

É com esse envolvimento mútuo que nos orgulhamos de ter criado um ambiente em que nos sentimos à vontade para encontrar amigos, familiares ou parceiros comerciais e onde certamente somos tratados com o respeito e a dignidade merecidos, independentemente de gênero, raça, etnia, orientação sexual, religião ou idade.

Prezamos pela ética, integridade e transparência em tudo o que fazemos. Nossa missão é inspirar e nutrir o espírito humano – uma pessoa, uma xícara de café e uma comunidade de cada vez.

Tudo isso se reflete em nossas ações de responsabilidade social, nossos projetos de inclusão, de contratação de minorias, de desenvolvimento de jovens aprendizes e diversas horas de treinamento investidas em nossos partners para reforçar ainda mais os valores éticos e o padrão de excelência de nosso atendimento.

Em relação ao incidente relatado pelos clientes Jorge Ribas Timi e Tatiane Timi, tivemos a oportunidade de, pessoalmente e por telefone, lamentar pela experiência que a família teve em uma de nossas lojas. Esforçamo-nos muito para trazer momentos agradáveis a nossos clientes. É esse o sentimento que nos move, dia a dia, a sempre tentar melhorar o nosso atendimento e os nossos produtos.

Se existe, por parte da família, o sentimento de que a experiência não foi agradável, sem dúvida alguma, nós não atingimos o que era esperado e, por isso, estamos realizando uma apuração completa do ocorrido. A acusação realizada é muito séria e não condiz de forma alguma com os valores e princípios que guiam a nossa caminhada. Não descansaremos até esclarecer os fatos e, se constatado algum desvio, identificaremos os responsáveis e tomaremos as providências cabíveis.

Será bem-vinda a oportunidade de trabalhar com a família nessa causa – para fazer da forma correta e contribuir para uma comunidade cada vez melhor.

Ao nosso público em geral reafirmamos que a Starbucks® tem um comprometimento de longo prazo com a diversidade e inclusão e não tolera qualquer desvio desses valores e princípios que guiam o nosso negócio.

Nosso canal de atendimento seguirá à disposição de todos.”

 

Cristina Esteche

Jornalista

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