22/08/2023


Brasil

O homem que não conhecia o valor do dinheiro

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Podem não acreditar, mas entrevistei um homem que realmente não conhecia o valor do dinheiro. Mas o “não conhecia” não era um termo figurado, ele literalmente não distinguia as notas e o valor que cada uma representava.

Homem simples. Fiquei cerca de cinco horas com ele. Nesse tempo, debulhou com as mãos cerca de 300 espigas de milho. Calmamente, fazia seu palheiro e jogava o milho para as galinhas. 

Casa de chão batido, mas tudo muito limpo. Sua esposa e seus quatro filhos me olhavam de canto, desconfiados. 

Ele me contou que era caseiro daquela usina, no distrito toledano de Novo Sarandi, há mais de 10 anos, desde que ela havia sido desativada. Não sabia quanto ganhava por mês, pois um “chegado” seu, que morava na vila, administrava seu dinheiro. “Não me importa quanto ganho, ou o que cada nota vale. O que vale é ter comida na mesa e meus filhos na escola”, afirmou ele, cortando mais um pedaço do seu rolo de fumo.

Natanael vivia alheio ao mundo. Sua rotina era manter limpa a estrutura da velha usina, que um dia serviria para atrair turistas ao local. Seu sonho era ver aquele local cheio de gente, vindas de todos os cantos do Brasil. “Gosto de gente, mas não confio nas pessoas. Gosto apenas de ver e de ter um ‘dedo de prosa’, nada além disso. Há muita maldade no mundo”, desabafou ele.

A lição que Natanael deixa é que não importa a cor ou a cara de cada cédula de dinheiro, e nem o seu valor. O que realmente importa, é o quanto do seu suor foi extraído para que ela fosse conquistada. “Dinheiro é só papel. Comida e estudo é o que mantém nossos filhos com esperança de uma vida melhor”, filosofou ele, com o palheiro num canto da boca e um sorriso amarelo no outro.

Cristina Esteche

Jornalista

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