22/08/2023
Cotidiano

Garcia, que saudades

Da redação –   O jornalista Paulo Esteche, residente em Florianópolis encaminhou texto à RedeSul de Notícias em homennagem ao radialista Waldemar Garcia que morreu nesta quarta-feira (7), vítima de complicações cardíacas. Leia na íntegra:

"O Waldemar Garcia não podia escolher um dia melhor para partir desta para outra – outra bem melhor, convenhamos. Justo no Dia do Jornalista, ele, que foi um baluarte do jornalismo em Guarapuava, decidiu junto com Deus que era chegada a hora de abandonar o seu corpo, com o qual durante muitos anos segurou seu caximbo e fez da voz um meio retumbante para transmitir informações.
Garcia era um versátil repórter e noticiarista. Comportava-se com a humildade que sempre deve nortear os repórteres, cumprindo a missão de coletar a informação, e agigantava-se diante de um microfone no estúdio. Ancorava um programa de entrevistas, se preciso fosse servia como mestre de cerimônia, comentava partidas de futebol.
Impossível esquecer dessa figura humana. Chegava nas solenidades, para uma coletiva ou cobertura, com um gravador especialmente guardado num capa de couro. Parecia uma Bíblia. E certamente era, como deve ser, um de seus “objetos” sagrados. Fazia questão de colocar a carteirinha do veículo onde estava trabalhando como um crachá pendurado no peito. Para novos jornalistas, pode parecer piegas, brega. Mas é um exemplo a ser seguido, pois é sinal respeito ao entrevistado, que sabe com quem está falando.
Waldemar Garcia vem de uma geração de radialistas que aprendeu a fazer de tudo, de “puxar fio” em campo de futebol à animação de programas de auditório. Foi o que levou a trabalhar na extinta TV Tupy e ao lado de Silvio Santos.
Tinha um bom humor contagiante. Certa vez, na vinda de um cônsul da Alemanha, em Entre Rios, os jornalistas ficaram reunidos num canto enquanto a autoridade alemã discursava. Garcia “traduzia” o discurso em voz baixa, como se o alemão estivesse falando mal dos políticos locais e do governador presentes. Quem ouviu a “tradução” não conseguiu conter as gargalhadas e obrigou-se a sair da sala.
Numa das últimas vezes que conversei com o Garcia, ele me contou que tinha um arquivo de áudios, uma coletânea de entrevistas que fez ao longo da carreira.
Sempre pensei que Guarapuava deveria ter uma museu da imagem e do som. Cheguei a fazer essa sugestão ao prefeito Fernando Ribas Carli na época que o assessorava (hoje não o assessoro mais), mas a ideia foi barrada por forças estranhas, insensíveis ao verdadeiro significado de um arquivo histórico.
Eu acredito que a família do Waldemar Garcia tenha essa sensibilidade e preserve o arquivo pessoal. Se tivéssemos o museu da imagem e do som, poderíamos incentivar que as famílias doassem originais ou cópias para preservarmos a memória de Guarapuava, que é, por extensão, a história de pessoas comuns ou ilustres que deixaram aqui as suas marcas e impressões.
Por falta de incentivo perdemos o arquivo do fotógrafo Onofre, 99,9% da população guarapuavana desconhecem quem foi Lustosa de Oliveira e só lembram do Visconde de Guarapuava porque é nome de rua ou avenida (isto em Curitiba).
Waldemar Garcia fez a sua parte, um registro de valor inestimável do seu tempo. É o que o transforma em parte valorosa da própria História. "

Cristina Esteche

Jornalista

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