Nesta segunda feira (30), dia em que termina o prazo dado pelos médicos do Instituto Virmond para a regularização dos pagamentos atrasados pela instituição sob pena de desligamento, a diretoria do hospital veio a público pela primeira vez para esclarecer a crise dentro do instituto. Em nota, o presidente do hospital, Frederico Eduardo W. Virmond, informou que o valor total da dívida com os médicos é de R$ 1,6 milhões. Como possível solução para o impasse, o hospital contou com o adiantamento do recurso de R$ 800 mil, liberado Secretaria de Saúde do Estado do Paraná (SESA), através do Teto Financeiro de Média e Alta Complexidade (MAC). Segundo Frederico, este montante será utilizado para quitar, imediatamente, metade da dívida com os médicos.
“A diretoria pretende regularizar os pagamentos a partir de maio. Tal proposta já foi feita ao corpo médico do hospital, assim como o comunicado de que, se assim julgarem melhor, os médicos podem encerrar a prestação de serviço para o Instituto Virmond a qualquer momento, ficando livres para outros caminhos profissionais”.
Como garantia de regularização da situação com os médicos, Frederico também mencionou, em nota, que a partir de maio, o hospital passará a receber mensalmente um repasse de R$ 124 mil para custear os atendimentos já prestados ao Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Também foi liberado, pela governadora Cida Borghetti, um recurso de R$ 300 mil, para a implantação e manutenção do ambulatório de ortopedia no Instituto Virmond, o que também trará um maior suporte financeiro para a instituição.
O corpo clínico do hospital ainda não se manifestou publicamente sobre a proposta. Procurado pelo Portal RSN, o diretor-técnico da instituição, Jarbas Silva, informou que um posicionamento dos médicos será emitido até o final da tarde desta segunda (30).
ARGUMENTAÇÃO
Frederico atribui o problema financeiro dentro do hospital a diversos fatores, entre eles, “caos que se encontra a saúde pública brasileira”. Atualmente, cerca de 90% dos atendimentos realizados pelo Instituto Virmond são pelo Sistema Único de Saúde (SUS), porém, os valores pagos pelos órgãos responsáveis são insuficientes para manter a saúde financeira do hospital.
Outro problema, segundo Frederico, diz respeito a contratualização, acordo financeiro firmado entre o governo estadual e a instituição. Segundo o médico, o valor não teve reajustes desde 2013, quando tal contrato já foi reajustado abaixo do necessário.
“Desde então, aumentaram os atendimentos e consequentemente, os custos. Mesmo diante de diversos apelos por parte da diretoria, o valor do contrato permanece congelado, sendo deficitário diante da demanda assumida pelo hospital”.
Outro problema que tem reflexo negativo no caixa da instituição diz respeito ao gerenciamento de frequentes atrasos nos repasses, como ocorreu recentemente com o Programa de Apoio aos Hospitais Públicos e Filantrópicos do Paraná (HOSPSUS), que atrasou o pagamento referente aos meses de outubro e novembro de 2017 e janeiro, fevereiro e março de 2018. Os repasses foram regularizados na última semana e, no momento, não há atraso no pagamento pelo programa.
Em resposta a carta divulgada pelo corpo clínico da instituição no dia 21 de março deste ano, a diretoria declara estar trabalhando para solucionar o problema o mais breve possível e lamenta profundamente que a situação tenha chegado a este ponto. Também manifesta gratidão aos médicos, que mesmo privados da remuneração, continuaram atendendo pacientes, exercendo a medicina como ferramenta na luta para salvar vidas e mantendo o hospital em funcionamento.
“Para continuar cumprindo com seu objetivo de prestar atendimento a quem necessitar, o Instituto Virmond precisa da devida atenção e suporte por parte do poder público em todas as suas esferas, e pede o apoio da comunidade, por quem a equipe do hospital zela todos os dias”.
PRESTAÇÃO DE CONTAS
Quanto ao convite de prestação de contas emitido pela Comissão de Saúde da Câmara de Vereadores de Guarapuava e lido na plenária no dia 23 de abril, Frederico declara que o chamado já era um desejo antigo da diretoria do Instituto Virmond. Segundo ele, há mais de seis meses, a instituição solicitou um convite para expor publicamente as dificuldades enfrentadas pelo hospital, visto que o Instituto Virmond atende a população guarapuavana. Frederico relembra, ainda, que a instituição não recebe nenhum repasse por parte da Prefeitura de Guarapuava.
A data em que a prestação de contas deve acontecer ainda não foi divulgada.
IMPACTO
Atualmente, o Instituto Virmond é fonte de renda para aproximadamente 450 colaboradores diretos, que atendem a população dos 20 municípios pertencentes à 5ª Regional de Saúde. O hospital é, ainda, o maior captador de órgãos e tecidos de toda a região, além de único hospital entorno de Guarapuava com leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) pediátrica.
O Instituto Virmond presta, em média, 1.700 atendimentos mensais pelo SUS e realiza aproximadamente 134 cirurgias eletivas e 20 artroscopias por mês, além dos atendimentos de urgência e emergência.
Só em 2017, de acordo com informações do corpo clínico do hospital, mais de 7.200 pessoas foram internadas para tratamentos na instituição. A relevância do hospital e do corpo clínico também tem impacto importante na maternidade, com uma média de 150 partos mensais, dos quais pelo menos 50 são de alto risco.