22/08/2023
Guarapuava Segurança

Depoimento de Manvailer dura 11 horas no sexto dia de júri

O julgamento é o mais demorado do PR. Num dos intervalos, a família Spitzner saiu do plenário. Ao fim da sessão, a mãe do réu pode abraça-lo

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Manvailer durante entrevista a Roberto Cabrini (Foto: Reprodução/TV Record)

*Reportagem com vídeo

O sexto dia do julgamento de Luis Felipe Manvailer durou cerca de 15h [incluindo pausas] nesse domingo (9). Somente o depoimento do réu chegou a 11h de duração. Este é o julgamento mais demorado do Paraná. Durante um dos intervalos, a família Spitzner deixou o plenário. Ao fiml da sessão, por volta de 0h40, o juiz permitiu que a mãe de Manvailer abraçasse o réu.

Manvailer relembrou o relacionamento do casal desde quando se conheceram. Ele contou sobre a rotina do casamento, a ida para a Alemanha e sobre os primeiros desentendimentos já na Alemanha. Luis Felipe ainda falou sobre o dia da morte de Tatiane, as comemorações do aniversário dele e várias vezes afirmou que é inocente. “Eu não matei Tatiane”. A defesa do réu preso falou sobre a importância de ouvir as testemunhas e relembrou que Rodrigo Crema ‘fugiu’ duas vezes do julgamento. Manvailer afirmou que “teria plena condições de confrontar ele aqui”.

DEFESA SEGUE

Antes de continuar com as perguntas a defesa alertou o réu. “Luis Felipe, o julgamento é hoje. No entanto o tribunal da imprensa já o condenou”. Desse modo, houve a exibição de um material veiculado na imprensa nacional, que mostra o passo-a-passo do dia morte. Outros pontos são destacados pela defesa, como a fala da família de Tatiane de que ele tomava doses cavalares de anabolizantes. E uma briga que Manvailer teria tido em uma festa. Ele diz que é mentira.

Assim, Rosenilda, uma amiga da Alemanha, durante a entrevista disse que desconfiava que as agressões já ocorriam na Alemanha. De acordo com a amiga, Tatiane aparecia com hematomas e ela [Rosenilda] perguntou se Tatiane sofria agressões. Manvailer disse que essa mulher sempre o tratou bem, que convidava o casal para ir à casa dela. “Jamais agredi a Tatiane. Nem ela e nem ninguém”.

Desse modo, a defesa afirma que Luis Felipe tentou, por seis vezes, fazer com que Tatiane descesse do carro. Porém, ela se negou. Quando ele concordou em ficar, ela quem mudou de ideia e se escondeu. Ele reconheceu que errou muito em pegar a mulher pelo pescoço e por ter a agredido. Sobre a morte, Manvailer volta a negar. Ele alega que seria impossível matar Tatiane, e ultrapassar mais de um metro com o corpo, se referindo a altura do parapeito da sacada.

Além disso, com base nos depoimentos, ele afirma que ficou evidente que seriam necessárias três a cinco pessoas primeiro pra ajeitar, pra erguer, pra ultrapassar o parapeito. Ele falou sobre a dificuldade dos investigadores na reprodução do dia da morte.

Pelo que sou acusado, de que matei Tatiane, estrangulei, de uma maneira totalmente amadora. Desculpa, mas sou faixa roxa de jiu-jitsu, se um dia precisasse usar de força para abater alguém, eu tenho toda técnica pra fazer isso sem deixar marca.

MOMENTO DA QUEDA

Manvailer disse que ia deitar, mas foi atrás de Tatiane que estava na sacada. Ela já teria passado uma das pernas para fora da sacada. “Fui atrás dela e dizia: o que é isso Tatiane? C***, não. Na hora que virei pra frente só vi as duas mãos dela no corrimão e quando eu estava na terceira parte da sala eu já entrei em estado de choque. Por mais que estivéssemos quebrando o pau eu não queria que ela morresse, que separasse. Eu não vi mais a mão. Ouvi um barulho, ouvi o grito dela, vi ela caindo. Eu chego no parapeito da sacada e vi ela no chão. Isso é simplesmente surreal. Entrei em desespero completamente”.

Desse modo, Manvailer afirmou que desceu desesperado. A defesa relembra que a acusação afirma que Tatiane teria sido espancada por Manvailer dentro do apartamento, o que teria causado lesões na mão esquerda, coxa esquerda, braço esquerdo, queixo, orelha esquerda e no crânio. Luis Felipe afirmou não fazer sentido pois não teria como agredir ela de um lado apenas. Questionou ainda se a queda então, não causou nenhuma lesão.

Sobre sinais de luta dentro do apartamento Manvailer diz que corresponde com o primeiro depoimento desde a prisão dele e que outras testemunhas também afirmaram que não havia. “Não foi apenas um depoente que falou isso. Foi o senhor Jacó, o Albach, o próprio professor Decadio viu nas fotos. Não tinha nada em desalinho, tudo correspondendo ao que foi relatado desde São Miguel do Iguaçu. Tudo correspondendo com o que eu sempre afirmei desde o começo, que eu não matei Tatiane. E são diversas evidências apresentadas aqui, todas objetivas”.

FUGA

O réu foi questionado sobre o que queria esconder, uma vez que, inovou a cena do crime para enganar o perito e o juiz, conforme a acusação.

Todas aquelas marcas de sangue no hall, sangue na camisa, sangue no elevador, sangue no corredor, um monte de arrasto de sangue. Que inovação que é essa?

Além disso, sobre carregar o corpo ele foi questionado sobre o desejo de esconder o cometimento de delito. Manvailer questiona: “Qual delito?”. O réu ainda fala sobre como enfrentou as acusações e julgamentos da comunidade em geral, e afirmou que, “é muito fácil ficar sentado no conforto de uma cadeira, no sofá da casa, nunca viveu algo parecido, uma reação extrema dessa. Muito fácil pegar e julgar”.

MAIS ALGO A DIZER?

Manvailer voltou a questionar alguns outros pontos da acusação. Além disso, afirmou que acredita na justiça de Deus.

Antes de tudo, confio em Deus. Os caminhos dele são sempre mais altos que os nossos. Os pensamentos D’Ele são mais altos que os nossos. Então confio 100% em Deus. Confio na justiça, apesar de tudo que aconteceu até aqui. Supressão de informação, aberração de pareceres, cadeia de custódia, gente atuando em algo que não tem a menor capacidade. Pegando uma pessoa frágil, ‘ah, é o osso hióide’, manuseando de forma como se não fosse nada. É minha vida em jogo. Eu estou pagando faz três anos por algo que não fiz. A acusação é de agressão. Eu disse que já seria suficientemente vergonhoso. Só que eu estou sendo acusado de matar a Tatiane, a Tati, a pessoa que eu queria passar o resto da minha vida. Eu não sou um assassino.

JURADOS

Após 11 horas de perguntas e respostas, os jurados puderam iniciar perguntas. Desde o início da sessão, na terça (4), os jurados têm se mostrado muito participativos, e sempre que podem fazem perguntas. Ao fim do depoimento do réu, não foi diferente. Os jurados fizeram mais de 20 perguntas a Luis Felipe. A sessão teve fim por volta das 0h40. E será retomada nesta segunda (10) às 12h.

Assista o vídeo do depoimento

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Cristina Esteche

Jornalista

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