O atraso no pagamento dos salários do Hospital Santa Tereza expõe um problema que tem se repetido mensalmente: a demora no repasse dos recursos por parte do governo do Estado. Mas além de números, de decisões e assinaturas administrativas, esse atraso mexe com a vida de centenas de pessoas.
São 360 funcionários, e atrás de cada um deles existe uma família. Para muitos deles, o salário do HST é a única fonte de renda para morar, comer, viver. É o caso da técnica de enfermagem Elci Scorsin, formada há 10 anos e dos quais quase nove são de dedicação aos pacientes do Santa Tereza.
Em entrevista ao Portal RSN, Elci afirmou que antes trabalhava no Hospital Nossa Senhora de Belém, que fechou. Separada há 14 anos, ela mantém a casa e paga aluguel. Com ela moram a filha de 19 anos, que está desempregada e dois netos pequenos: um de dois anos e o outro de 4 meses de vida.
“O pai das crianças ajuda, mas ele presta serviço por conta e só ajuda quando recebe. Minha filha está procurando trabalho no comércio, mas está difícil conseguir uma vaga”.
Desta forma, o aluguel, as contas de água, luz, telefone, mercado ficam sob a responsabilidade de Elci. “O sustento da casa é por minha conta, não tenho ajuda. Até um tempo atrás eu trabalhava no Hospital São Vicente, mas não sou mais uma adolescente, estou com 50 anos e não estava aguentando mais trabalhar 18 horas por dia”. Ela disse que o que está ajudando por enquanto, foi o acerto que recebeu do São Vicente.
Acabando esse dinheiro, eu não tenho uma segunda renda, não tenho de onde tirar. E com criança em casa, chega uma hora que bate o desespero sabe, as contas vão chegando.
O drama enfrentado por Elci é vivido por dezenas de outras colegas, que de acordo com ela, sustentam as casas sozinhas e têm filhos pequenos. “A gente vê o desespero, e na situação que tá o hospital, faltam funcionários para atender os pacientes. E o hospital não consegue contratar, por causa dos atrasos.” Elci afirmou que acaba não conseguindo dar a assistência digna aos pacientes, e desabafa.
A gente acaba ficando doente por não ter condições de trabalho. É muito paciente para poucos funcionários. A gente quer fazer o nosso melhor, mas chega num ponto que a gente entra em depressão. Saio do hospital chego em casa e penso: como vou colocar comida em casa, com os salários atrasados?
Ao Portal RSN ela comentou que para trabalhar na profissão de saúde é preciso ter dom.
A gente escolhe essa profissão porque a gente ama o que faz. A gente faz por amor, mas amor não paga as nossas contas. Mas continuamos fazendo com amor, responsabilidade, ética e respeito. Os pacientes e acompanhantes não tem culpa das dificuldades que nós enfrentamos.
O pagamento está sendo realizado nesta quinta (21).