22/08/2023
Cotidiano

Falta de prevenção dispara casos de HIV na terceira idade

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Do total de 609 diagnósticos, 94 são em idosos

Dos 609 casos diagnosticados de HIV/Aids em Guarapuava, 94 são em pacientes da terceira idade, ou seja, 15,5% do total. Desse número, são 46 casos em mulheres acima de 50 anos e 48 registros em homens também acima dessa faixa etária. Número que vem aumentando em todo país. Nas mulheres a taxa de incidência da Aids mais que triplicou em dez anos. Em 1996 havia de 3,7 casos por 100 mil habitantes no Brasil; em 2006, o índice já era 11,6. Em função disso, o Ministério da Saúde e a Secretaria Especial de Política para as Mulheres lançaram a campanha de prevenção à Aids do Carnaval deste ano voltada para essa faixa etária. Com o slogan “Sexo não tem idade para acabar. Proteção também não”, o intuito é conscientizar para o perigo do sexo sem o uso de preservativo.
“No ano passado fizemos um trabalho acadêmico sobre esse assunto e constatamos que estar na terceira idade não significa ausência de sexo, ao contrário, a qualidade de vida melhorou muito. Hoje também existem remédios para a impotência sexual e com a liberdade que eles têm, frequentando bailes e lugares onde podem se divertir, conhecer pessoas, namorar, casar e ter relações sexuais”, observa Clarice Kunkel (foto), enfermeira e coordenadora do SAE.
A desinformação tem como consequência uma vida sexual ativa e sem proteção. Além disso, os idosos não fazem uso de preservativos pela falta de costume, pois é algo que foi pouco utilizado ao longo de suas vidas. “A terceira idade de hoje não tinha esse hábito, não foram orientados de que eles precisavam fazer uso do preservativo como proteção contra doenças, porque antigamente não existia esse método”, comenta.
Mais uma preocupação crescente, de acordo com Clarice, é com relação ao diagnóstico da doença, que muitas vezes é tardio. Em geral, no início da infecção, o portador do HIV aparenta saúde. “A nossa conversa quando vamos dar o resultado positivo para uma pessoa da terceira idade é muito mais difícil do que falar com um jovem de 18 anos, por exemplo. Porque uma mulher ou um homem com mais de 50 anos nunca pensou que, depois dessa idade, poderia ter uma doença como a Aids. Geralmente essa pessoa já está com outras doenças associadas, muitas vezes já tem diabete, câncer, depressão, hipertensão, e daí mais o HIV, mais um remédio que ela vai precisar tomar, mais uma doença que ela vai precisar cuidar. Então isso machuca muito”, fala.
Procurar um especialista é imprescindível, pois ele poderá indicar corretamente os exames que devem ser feitos e, posteriormente, o tratamento compatível. “Temos vários pacientes que vão ao médico, descobrem que tem câncer e junto o médico acaba desconfiando de mais alguma coisa, manda fazer exame e dá positivo. São pacientes com mais dificuldades de entender a doença. Se por um lado é fácil de pegar, tratar e conviver é totalmente diferente”.
As demais doenças sexualmente transmissíveis, ou venéreas, também estão alcançando cada vez mais a terceira idade. Entre elas estão candidíase, gonorréia, herpes, hepatite e outros tipos de infecções graves. O melhor remédio ainda é a prevenção com o uso da camisinha.
Ações
O SAE desenvolve trabalhos sobre prevenção, controle e tratamento de doenças sexualmente transmissíveis durante todo o ano, mas no período de Carnaval os esforços são intensificados. E apesar da campanha do Ministério da Saúde estar focalizada nas mulheres com mais de 50 anos, nenhum grupo será esquecido. “Vamos trabalhar todas as idades, principalmente os jovens, pois as pessoas com mais de 50 anos normalmente não ficam tanto tempo em uma festa. Vamos a todos os lugares que tenham atividade de Carnaval, como os bailes da terceira idade, salões, clubes e postos de gasolina na BR. Estamos com 50 mil preservativos para ser distribuídos, pois queremos fazer um carnaval bem saudável e consciente”, aponta Clarice.
Ao todo, 15 pessoas vão estar mobilizadas na campanha de Carnaval, e todas as noites uma equipe ficará de plantão na sede do SAE para distribuição de preservativos ou orientações. O atendimento será das 21h às 03 horas da manhã.
O Serviço de Atendimento Especializado fica na Rua Getúlio Vargas, 1981. Fone: 3621-4524.

Falta de prevenção ainda é grande
Dados parciais de pesquisa de comportamento realizada pelo Ministério da Saúde, em 2008, apontam que a infecção pelo HIV triplicou nos últimos 10 anos em mulheres com mais de 50 anos. A pesquisa revela que mais da metade das mulheres nessa faixa etária (55,3%) é sexualmente ativa. O problema é na hora de se prevenir. Enquanto o uso regular de camisinha nas relações casuais no grupo de 15 a 49 anos (homens e mulheres) fica em 47,5%; esse índice é de apenas 34,8%, quando ultra-passados os 50 anos. No recorte por sexo, mostra-se que o público feminino está em situação mais vulnerável. Só 28% dessa população adota a prevenção. Entre os homens, o número sobe para 36,9%.
Por isso o mote da campanha publicitária, que terá peças para TV e rádio, é o “Bloco da Mulher Madura”. Formado apenas por mulheres acima dos 50 anos, o grupo valoriza o sexo seguro. “Homem sem camisinha a gente não atura, nem para uma aventura”, diz uma das protagonistas no filme de 30 segundos.
O tema do Carnaval deste ano dá continuidade à campanha do Dia Mundial de Luta contra a Aids 2008, lançada no dia 1º de dezembro, que teve como foco os homens com mais de 50 anos. Entre eles, o uso de camisinha também é baixo. Na pesquisa realizada em 2008, 63% afirmam não ter o costume de utilizar camisinha nas relações eventuais.
SERVIÇO:
Oriente-se pelos sites www.aids.gov.br e www.spmulheres.gov.br.

Cristina Esteche

Jornalista

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