22/08/2023
Saúde

Novo sistema de saúde está sendo planejado em Guarapuava

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A mudança no sistema de saúde pública em Guarapuava começa a ser desenhado nesta sexta-feira e segue até amanhã, sábado, durante a elaboração do planejamento estratégico do setor para os próximos quatro anos. A partir de um diagnóstico já elaborado a ideia é reformular e priorizar o atendimento no atendimento básico prestado pela Secretaria Municipal de Estado.

Para motivar os gestores municipais uma oficina está sendo realizada no Hotel Atalaia, em Guarapuava e tem como palestrantes duas das maiores autoridades em saúde pública do País: a médica pediatra e consultora Mari Emi Shimazaki e o consultor com renome internacional Eugenio Vilaça Mendes, responsável pela remodelação da saúde pública em Minas Gerais e outros estados brasileiros. O ex-secretário municipal de Saúde de Guarapuava, Renê dos Santos, hoje na Secretaria de Estado da Saúde, também palestra no evento.

A principal mudança que será feita no atual sistema praticado em Guarapuava será a inversão de valores hoje referentes ao atendimento urgência x emergência. De acordo com o secretário de Saúde, Stefan Wolanski Negrão, atualmente, os dois centros 24 horas existentes (Jardim Pérola do oeste e Bairro Primavera) são responsáveis por cerca de 85% dos atendimentos. “Somente em janeiro deste ano essas duas unidades atenderam 14 mil pessoas, enquanto os 20 postos de Saúde da Família e os oito Centros Integrados de Atendimento foram responsáveis por 16 mil atendimentos”, enumera o secretário. “Esses 85% de atendimentos nos centros de urgência e emergência deveriam ter sido atendidos nos postos de saúde”, observa o secretário.

Para Renê dos Santos, essa realidade tem como causa a precariedade da assistência oferecida nas unidades de saúde e a falta de conscientização das pessoas que por qualquer sintoma buscam os centros de urgência e emergência porque sabem que ali serão atendidos. Essa demanda, porém, é a “ponta do iceberg” que provoca reclamações. “É preciso que a população saiba que a prioridade da urgência e emergência são pacientes graves que precisam de atendimento imediato. É por isso que as pessoas vão até essas unidade e ficam esperando até quatro horas ou mais para serem atendidos. Porque estão sendo acometidas de males simples que poderiam ter sido tratados nos postos de saúde do seu bairro. Mas a falta de médicos, de enfermeiros, a situação deficitária das unidades faz com que essa demanda desemboque nas urgências”, observa Stefan Negrão. De acordo com o secretário, as unidades de saúde do município possuem um déficit de 40 médicos. “Somente neste ano, a secretaria teve uma baixa de oito médicos. Entretanto, chamou os aprovados no concurso público, dos quais quatro foram efetivados e outros seis contratados em regime emergencial. Outro problema é a falta de ambulância e as demandas da população em relação a esse atendimento. “Recebemos a secretaria com 10 ambulâncias, das quais apenas duas tem condições razoáveis de uso; as demais estão sucateadas. O problema, porém, já está sendo resolvido”, diz Stefan. A demanda desse atendimento também possui uma inversão. A ambulância do Samu, por exemplo, que deveria ser utilizada apenas para atender chamadas para pacientes graves, é acionada para todas as ocorrências. “O que as pessoas precisam saber, e essa é um falha que sempre existiu, é que o Samu possui um médico que monitora todas as chamadas e que precisa fazer uma triagem das solicitações. Muitas vezes o médico está perguntando o estado do paciente e quem chamou desliga o telefone porque não quer esperar. Enquanto o médico está perguntando, e isso não leva um minuto, a ambulância já está sendo acionada, se há essa necessidade”, explica. “É nessa seleção que surgem as reclamações sobre a falta de atendimento, sobre a demora, mas que um simples dor de garganta, por exemplo, deve ser atendida no posto de saúde e não na Urgência Emergência”, diz.

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

Para reverter essa situação, modernizar e oferecer uma saúde pública com qualidade, é que está sendo elaborado o planejamento estratégico. “É preciso organizar o sistema e isso só se faz a partir de um planejamento estratégico. Precisamos saber onde estamos, como estamos, para onde vamos, onde queremos chegar e o que é preciso ser feito para que isso aconteça”, diz Renê dos Santos. De acordo com Renê, um dos gargalos da saúde da pública é a falta de conscientização do cidadão ao SUS. “As pessoas precisam saber que o SUS é um direito de cada pessoa e que é preciso reivindicar um maior orçamento federal para a saúde pública. É preciso também organizar essa rede que envolve ações de outras áreas. É preciso que se tenham uma nova abordagem; que o médico, a enfermeira que estão nos bairros criem um vínculo com as pessoas, conheçam a realidade onde estão inseridos”, diz. Segundo Renê, o sistema tem que se mostrar capaz. “O SUS não pode ser um sistema pobre para atender pobres, ele tem que ser eficiente para suprir o direito que a sociedade tem. E é esse um dos desafios que estamos encarando aqui em Guarapuava”, assegura.

Cristina Esteche

Jornalista

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