22/08/2023
Educação

Professor da UFPR questiona se UFFS é solução ou equívoco estratégico

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Guarapuava – A Prefeitura de Laranjeiras do Sul, a Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) e a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) devem assinar em setembro o termo de convênio para ceder o imóvel onde vai funcionar, inicialmente, a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS).
O convênio prevê a utilização do prédio da Unicentro (foto) pela UFFS até o fim de 2011.
A CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado já aprovou o projeto de Lei que cria a Universidade. Nesta terça-feira, dia 25, a Comissão de Educação do Senado aprovou a criação da Universidade faltando apenas a sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A instituição terá cinco campi no Sul do País: Chapecó (SC), Laranjeiras do Sul e Realeza (PR), e Cerro Largo e Erechim (RS). As aulas nos cinco campi começam em março de 2010. Em Laranjeiras do Sul, a instituição vai utilizar provisoriamente o novo prédio da Unicentro, até que seu campus seja construído.
Para o professor aposentado da Universidade Federal do Paraná, Orlando Pilati, a
UFFS é solução ou equívoco estratégico.
“Apesar do consenso existente na opinião predominante, permito-me perguntar se a UFFS é solução ou equívoco estratégico. Antes que eu exponha minhas considerações, esclareço que partilho do princípio de que é dever do Estado ampliar a oferta de vagas públicas que sirvam de referencial em termos de qualidade para a educação superior e para a pesquisa”, disse o professor em email encaminhado à Rede Sul de Notícias.
“Julgo também relevante apresentar-me brevemente. Nasci no interior do centro-oeste paranaense, filho de família numerosa e pequeno-proprietária. Depois de muitas dificuldades, estudei na Universidade Federal do Paraná, a única instituição pública na época. Participei do movimento estudantil, cuja principal tônica marcou o resto da minha vida acadêmica: a luta pela democratização do conhecimento e da educação superior com qualidade, ao par da ampliação das oportunidades de acesso à educação superior pública como condição para o desenvolvimento social do nosso estado. Hoje sou professor aposentado da Universidade Federal do Paraná, mas continuo atuando na educação superior”, relata.
“Pois bem. Hoje tramita no Congresso o Projeto de Lei nº 3.774/2008, que cria a chamada Universidade Federal da Fronteira Sul e autoriza o Ministério da Educação a criar um quadro de pessoal com vagas para 500 professores e 340 servidores técnico-administrativos, dos quais, 232 de nível intermediário e 108 de nível superior. Esta universidade teria sua sede em Chapecó e outras unidades no oeste de Santa Catarina, além de campi no Paraná (Laranjeiras do Sul e Realeza) e norte do Rio Grande do Sul (Erechim e Cerro Largo). Para preparar detalhar a futura implantação foi designada pelo Ministro da Educação a seguinte Comissão: Presidente – Dilvo Ristoff (UFSC), Antônio Diomário de Queiroz (Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina – Fapesc), Bernadete Limongi (UFSC), Gelson Luiz Albuquerque (UFSC), Ricardo Rossatto (Faculdade Luterana de Santa Maria), Conceição Paludo (Universidade Federal de Pelotas), Paulo Alves Lima (Unicid – SP), Antônio Inácio Andreolli (Universidade de Ijuí – RS), Solange Maria Alves (UnoChapecó), Marco Aurélio Souza Brito (Secretaria de Educação Superior/MEC), João Carlos de Souza (Capes)”.
O professor chama a atenção para o fato de que não há nenhum representante de instituição ou órgão público paranaense, embora entenda de que isso não seria indispensável para o desenvolvimento de trabalho comprometido com o sudoeste. “Não se pode discordar da premissa política de que é necessário criar mais instituições públicas dedicadas tanto à produção de conhecimento como à oferta de educação superior de qualidade. Entretanto entendo que existem problemas na proposta, que não conheço em detalhes. 1) – A receptividade inicial, tanto pelos municípios como pelos políticos representantes das regiões citadas se justifica pelo aceno de se contar com mais vagas públicas. Porém a implantação em três unidades da federação será dificultada por problemas de ordem política e administrativa: interesses regionais, distribuição de funcionários e professores entre outros. 2) – Também não é verdade que não existam ações de instituições públicas na região paranaense, como foi alegado em algumas manifestações públicas dos envolvidos no projeto. Veja-se que a Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR atua em Pato Branco, Medianeira, Francisco Beltrão, Dois Vizinhos, Toledo, além de outras regiões do Estado (Ver a relação completa dos cursos oferecidos pela UTFPR no Portal do Ministério da Educação http://www.educacaosuperior.inep.gov.br/funcional/lista_cursosies.asp?pIES=588&pNomeIES=Universidade+Tecnol%F3gica+Federal+do+Paran%E1+%2D+UTFPR.
A Universidade Federal do Paraná – UFPR, a mais antiga universidade do país, atua em Palotina. 3) – A Universidade Estadual do Centro Oeste – UNICENTRO, com sede na cidade histórica de Guarapuava (que completará 200 anos em 2010) tem campi em Chopinzinho e em Laranjeiras do Sul. 4) – A Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, com sede na cidade de Cascavel, atua em Foz do Iguaçu, Francisco Beltrão, Marechal Cândido Rondon, Toledo, Medianeira, Santa Helena e Palotina. 5) – O Centro Universitário Católico do Sudoeste do Paraná – UNICS é uma instituição privada com sede em Palmas, pertence à entidade mantenedora Centro Pastoral Educacional e Assistencial Dom Carlos (CNPJ 79.541.587/0001-04), caracterizada por ser uma Pessoa Jurídica de Direito Privado, sem fins lucrativos e Associação de Utilidade Pública. Ao que parece, os dirigentes da instituição e da mantenedora, juntamente com os deputados federais, Rodrigo da Rocha Loures e Angelo Vanhoni e o senador Flávio Arns apresentaram proposta para que o UNICS seja incorporado à futura Universidade Federal da Fronteira Sul, vindo a constituir-se em mais um campus. Deve-se verificar se a federalização de uma instituição privada será possível e a que custos. Face a estes aspectos, sem prejuízo de outros que poderão ser levantados, pergunta-se: a) Por que não existem representantes paranaenses (instituições e órgãos públicos) na discussão e detalhamento da proposta? A UFFS é, na verdade, uma universidade federal que vem sendo concebida para o Oeste Catarinense, apesar do discurso recente que dá a entender que terá envolvimento também com a região paranaense. b) Por que não se pensar na ampliação, consolidação e articulação da atuação das duas universidades federais já presentes na região? c) Por que não se investir na alternativa de se consolidar o embrião multicampi de uma Universidade Federal do Oeste+Sudoeste Paranaense – UFOPAR ou algo parecido? d) Por que não se promover uma articulação com as universidades estaduais também presentes na região, para, entre outras coisas, não superpor projetos, cursos de graduação e de pós-graduação de forma a otimizar os recursos públicos? e) Se a federalização do Centro Universitário Católico do Sudoeste do Paraná – UNICS é legalmente possível, por que não incorporá-lo à UFPR ou UTFPR? Em suma, existem competências acadêmicas e institucionais envolvidas com a história da região que poderiam trazer não só enriquecimento da proposta atual como a eventual construção de alternativas perfeitamente adequadas às necessidades das comunidades paranaenses fronteiriças. Surpreende-me que não tenham aparecido discussões mais consistentes. Da minha parte, tenho fortes dúvidas de que a proposta da constituição de uma universidade nos termos em que vem sendo propostos possa ter condições objetivas de efetivação”, avalia o professor.

Cristina Esteche

Jornalista

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