22/08/2023
Segurança

Sem dinheiro, mãe trabalha 18 horas por dia para tirar filho da cadeia

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Guarapuava – Sem recursos financeiros para bancar as despesas com advogado, uma mãe trabalha 18 horas por dia, dividindo a sua jornada entre dois hospitais da cidade.
“Saio de um e vou correndo para o outro, mas faço de tudo para ver o meu filho em liberdade”, diz Beatriz Pereira dos Santos(foto), mãe de Diego, o jovem que está preso há mais de um ano por ter dirigido bêbado e ter provocado a morte de duas pessoas na madrugada de 10 de abril de 2008.
Diego atravessou a preferencial no cruzamento da rua Visconde de Guarapuava, bateu numa motocicleta que transitava pela rua Padre Chagas. Seu melhor amigo, Ericsson Augusto Pereira (19 anos), passageiro da caminhonete Saveiro que Diego dirigia, e a motociclista Maridelma Luteski (21 anos) morreram. Diego foi preso em flagrante e responde por duplo homicídio doloso (com a intenção de matar).
O drama da mãe de Diego se agravou a partir do dia 7 de maio, quando o ex-deputado Fernando Carli Filho se envolveu em acidente cujas causas coincidem com aquele que tem Diego como autor.
O primogênito do prefeito Fernando Ribas Carli, assim como o filho de dona Beatriz, uma auxiliar de enfermagem, foi denunciado pelo Ministério Público na tarde de quarta-feira, dia 25, por duplo homicídio, qualificado, com dolo eventual, por dirigir embriagado e ainda violar a suspensão da Carteira Nacional de Habilitação. Assinada pelos promotores de Justiça Danuza Nadal e Marcelo Balzer Correia, a denúncia foi ajuizada perante a 2ª Vara de Delitos de Trânsito da capital.
Carli Filho é acusado pela morte de Gilmar Rafael Yared e Carlos Murilo de Almeida, na madrugada do dia 7 de maio, após colisão entre o Volkswagen Passat que dirigia e o Honda Fit conduzido por Gilmar Yared. Só não foi preso em flagrante porque tinha foro privilegiado.
As coincidências e as diferenças entre Diego e Fernando Filho pautaram a Revista RPC no domingo, dia 23. A reportagem mostrou que enquanto o ex-deputado aguarda a decisão da Justiça em liberdade, Diego está confinado numa cela, comum dividindo o pequeno espaço com outros presos.
Para Beatriz, este é o preço que seu filho paga por não ter nascido em “berço em ouro”, por não ter condições financeiras. “O ex-deputado está solto porque foi enquadrado em crime de trânsito, enquanto o meu filho está preso como autor de crime comum, como pessoa que representa perigo à sociedade como declarou o juiz Nestário Queirós”, diz Beatriz.
Na entrevista concedida à RPC, o juiz falou também que o acidente provocado por Diego provocou comoção pública à sociedade, e que sua prisão é para manter a ordem pública. “E vocês querem uma comoção maior do que a provocada pelo ex-deputado e que teve repercussão nacional e que, mesmo assim, ele está tranquilamente indo para a academia?, questiona a mãe de Diego.
“E o que posso pensar quando o promotor Mauro Dobrowolski disse que as vítimas de Diego estavam impossibilitadas de se defender? Será que os dois jovens mortos pelo ex-deputado tiveram a chance de se defender? Qual é a diferença entre o filho do prefeito e o meu filho, com exceção da condição financeira? Que justiça é essa que só privilegia os ricos?”, indaga a mãe em seu desespero.
Segundo ela, o então advogado de Diego, Miguel Nicolau Junior, já tinha entrado com três pedidos de “habeas corpus”, mas todos foram negados.
A partir da entrevista concedida por Diego à RPC, Beatriz disse que o criminalista substabeleceu o processo a advogados de Curitiba. “Ele (o advogado) trabalha na Prefeitura e disse que se a gente concordasse em dar entrevista à RPC ele deixaria o caso”, conta Beatriz. O advogado foi procurado pela TRIBUNA, mas não retornou a ligação.
Foto: Arquivo:Tribuna/Rede Sul

Cristina Esteche

Jornalista

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