Cristina Esteche
Uma consulta prévia feita de modo equivocado provocou a reação da comunidade ligada ao patrimônio histórico de Guarapuava. A proprietária da casa antiga localizada na esquina entre as ruas Senador Pinheiro Machado e Capitão Rocha, Centro da cidade, solicitou uma consulta informal sobre a possibilidade de construir um edifício no lugar do casarão antigo. De acordo com o empresário Claudinei Pereira, da Imobiliária Imperium, a quem a proprietária, que mora em São Paulo, fez a consulta especulativa, ao fazer uma solicitação informativa na Prefeitura, um dos funcionários da imobiliária se equivocou e pediu como se fosse para demolição.
A casa, que já sediou uma agência do Santander, porém, está para locação. “A proprietária tem interesse em construir, mas onde funcionava o estacionamento da agência bancária, ao lado”, disse Claudinei à Rede Sul de Notícias.
“Não há nenhum pedido para demolição do local, mas apenas uma consulta”, assegura. O presidente do Concidade, Flávio Alexandre, que também é secretário municipal de Habitação, confirma a declaração do empresário. "Foi apenas uma consulta. Ninguém falou que vai demolir o casarão", assegura.
O pedido feito ao Conselho da Cidade provocou a reação de entidades como o Observatório Social e o Instituto Histórico de Guarapuava. “Estamos aguardando uma audiência com o prefeito [Cesar Filho] para impedir uma possível demolição”, informou Abel Bina, do Observatório. “Estamos mobilizados com o Observatório Social e outras entidades e a nossa sugestão é que a casa seja preservada pela Prefeitura, que pode comprá-la e colocar ali um projeto cultural”, afirma a presidente do Instituto Histórico, professora Zilma Haick.
De acordo com o presidente da Câmara Municipal de Guarapuava, João Napoleão, o município não possui uma lei que trate do tombamento do patrimônio histórico. “Tão logo comece o exercício legislativo vamos tratar desse assunto”, antecipa.
“O que existe é um cadastro de residências e prédios de interesse histórico elaborado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural de Guarapuava, hoje desativado”, diz a professora Zilma.
História
O casarão em foco, um dos últimos ainda existentes em Guarapuava, foi construído no começo do Século XX. Porém, essa informação é controversa, já que um dos livros de autoria da historiadora Gracita Gruber Marcondes diz que o porão da residência serviu como esconderijo das moças durante a Revolução Federalista, no Século XIX.
Uma pesquisa acadêmica feita pelo arquiteto Terek Silva mostra que a construção foi erguida de acordo com o estilo arquitetônico adotado pelos grandes centros na época, utilizando detalhes da época colonial com a Art Decó, estilo artístico de caráter decorativo que surgiu na Europa na década de 1920, atingindo os Estados Unidos e outros países do mundo na década de 1930.
O casarão abrigou a primeira botica, ou farmácia, de Guarapuava e pertencia à Domingos do Amaral. “A parte de manipulação era feita no porão”, diz a professora Zilma. Mais tarde, passou a pertencer ao filho de Domingos, Zacarias Caetano do Amaral, que foi prefeito de Guarapuava. Ali também foi sede da primeira agência bancária constituída do município, o Banco Nacional do Comércio.