22/08/2023
Política

O balão, que não passou de ensaio, murchou

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Guarapuava – Por Cristina Esteche

O presidente da Câmara, vereador Admir Strechar (PMDB), disse que o bloco parlamentar de oposição resistiu à tentativa frustrada do grupo “carlista” em desestabilizar o Grupo dos Oito, nome dado ao conjunto dos vereadores contrários à política administrativa do prefeito Fernando Ribas Carli.
“Continuamos unidos e tendo como denominador comum a continuidade do rigor na fiscalização dos atos do Executivo”, disse Strechar à TRIBUNA na quinta-feira, dia 17.
Enquanto a oposição barra pedidos para autorização de abertura de créditos adicionais especiais sem explicações por parte da administração municipal de onde esses recursos serão aplicados, e também desaprova as contas do exercício financeiro de 2007 assinadas pelo prefeito por irregularidades apontadas pelo Ministério Público, sob a orientação do Tribunal de Contas do Paraná, o grupo político que está no comando de Guarapuava tenta reverter os votos da Câmara.
O assunto veio à tona logo na primeira sessão da semana. Na segunda-feira, dia 14, o líder do G8, Antenor Gomes de Lima (PT) se pronunciou na tribuna a partir de um telefonema anônimo feito ao seu telefone celular. O interlocutor dizia que 4 vereadores do bloco oposicionista passariam para a bancada “carlista”.
Antenor provocou uma situação e fez um desafio para que esses vereadores, caso estivessem vivenciando essa situação, assumissem a mudança de postura política, e a considerou uma traição ao povo de Guarapuava. O discurso caiu como uma “bomba” sobre os meios políticos e provocou comentários para todos os gostos.
A estratégia adotada pela bancada situacionista para parecer alheia a essa situação e mostrar que a preocupação era para com a situação de precariedade em que a cidade se encontra patrocinou 13 requerimentos pedindo melhorias. Solicitações estas endereçadas ao prefeito após mais de 6 meses de legislatura, e que compõem um cronograma de obras priorizadas pela Surg. Uma estratégia antiga, previsível, e confirmada inconscientemente (ou seria, por falta de orientação?) pelo próprio prefeito quando, pouco tempo depois, foi a uma parcela da imprensa local anunciar que “Guarapuava está em obras”. Foram mais de 6 meses de uma administração reeleita e com tanta demanda, onde os buracos transformam a cidade, numa analogia, ao melhor dos queijos suíços (aqueles cheio de buraquinhos por todos os lados).
Enquanto isso, pegando carona na tentativa do agora sorridente prefeito (é assim que aparece nas fotos oficiais), os boatos sobre vereadores continuaram tentando fragilizar a oposição. É claro que mensageiros do Paço Municipal aproveitaram a situação que fora criada por eles mesmos para tentar um assédio, político, é claro; infeliz também.
“Continuo firme na oposição e em momento algum penso em mudar essa posição”, reagiu o “tucano” Nélio Gomes da Costa que, embora eleito pelo grupo “carlista”, rompeu esse vínculo no episódio desastroso da eleição da Câmara, quando houve a tentativa de imposição do nome da também “tucana” Maria José Mandu Ribas à presidência da Câmara. Nélio, embora estreante na política eletiva, traz uma bagagem regada a personalidade própria, e cumpre um mandato desvinculado da atuação parlamentar do seu pai, o ex-vereador Osdival Gomes da Costa.
Um dos principais desafetos políticos do grupo “carlista”, e que também divide espaço no “ninho tucano”, João Napoleão, é outro que garante se manter firme no bloco oposicionista. “Se eu um dia mudar de lado assumo isso publicamente para evitar esse tipo de boato”, afirmou. João Napoleão, que preside a Comissão de Finanças e Orçamento da Câmara, foi quem assinou parecer pela desaprovação das contas “carlistas” no exercício financeiro de 2007. Portanto, uma mudança no rumo da atual postura política seria uma mancha na sua imagem política, estilhaçando a confiança, principalmente do novo grupo ao qual pertenceria. João Napoleão iniciou sua carreira como vereador pelo grupo do ex-prefeito Vitor Hugo Burko, quando ainda era filiado ao PL. Foi um dos membros do G4 ao lado dos ex-vereadores Osdival Gomes da Costa, Joel Iatskiu e Ney Gonçalves do Nascimento. Foi justamente a desestabilização do G4, agora na base “carlista”, que deu a vitória ao oposicionista Admir Strechar na presidência da Câmara, contra o então situacionista Joel Iatskiu, numa estratégia política desenhada pelo ex-procurador do município, Fabio Martins Ribas. João Napoleão foi para o PSDB, enquanto Joel foi direcionado para o PSB.
Não fugindo à regra, o G8 nasceu em meio à ditadura “carlista” no episódio da eleição da Câmara, e deverá manter-se unido para que qualquer tiro disparado agora não saia pela culatra nas próximas eleições para a presidência da Câmara.
Na busca pela governabilidade, como disse o secretário executivo da Prefeitura, José Campos Filho, um dos possíveis alvos dos emissários do prefeito seria o democrata Gilson Amaral, assim como Sadi Federle, Eva Schran ou Thiago Cordova. Mas também vamos aos fatos, embora já tenhamos ouvido alguém falar que a política é a arte do impossível, ou como disse o situacionista Elcio Melhem: “eu morro e ainda não vejo tudo”.
Embora se auto-defina como um vereador independente, o democrata Gilson Amaral se tornou também um dos maiores, se não o maior, desafeto político do prefeito Fernando Ribas Carli, pouco mais de um ano após a sua primeira eleição como vereador pelo PSDB. Gilson Amaral, dono de uma votação recorde como vereador, não encontrou espaço no grupo “carlista” quando demonstrou sua vontade de sair candidato a deputado. Afinal, a “bola da vez” era o filho primogênito do prefeito. Rompeu, perdeu o emprego na 92 FM e foi para o DEM, do qual é presidente. Gilson Amaral não vai querer ver frustrada, mais uma vez, a possibilidade que tem de alçar voos rumo a Curitiba ou a Brasília.
A mulher que se senta à cadeira da presidência em quase todas as sessões semanais para conduzir como segunda vice-presidente os trabalhos legislativos, Eva Schran (PHS), vem de uma raiz política religiosa, comprometida com os movimentos sociais e com a comunidade que a elegeu. Divide o seu mandato e as decisões deste com um conselho político-popular. Elogiada pela humildade, virtude própria de poucos, especialmente no meio político, não se curvaria a nenhum chamado, por mais persuasivo que fosse, do meio político da situação. Já disse “não” nas eleições para a presidência da Câmara e por falta de assédio é que não foi.
Intimamente ligado ao grupo político do deputado federal Cezar Silvestri e homem da inteira confiança do presidente do PPS, Cesar Silvestri Filho, Thiago Cordova não se renderia a nenhum canto de sereia que partisse do principal opositor de Silvestri Filho. Seria como abraçá-lo com uma mão e apunhalá-lo com a outra, além de jogar fora a coerência mantida no seu primeiro mandato, em que fez oposição ferrenha à administração “carlista”.
Thiago Cordova sabe que a maioria dos seus votos trafega pelo formador de opinião e que este pela sua politização não toleraria tamanha desfeita aos companheiros de partido. Seria como jogar o seu mandato fora abrir mão de correligionários que depositaram nele toda a sua confiança.
Tudo bem que o jargão “o povo tem a memória curta”, ou aquele que já ouvi dizer momentos após o resultado das eleições, que “voto não se conquista com obras, mas se compra” podem até ser verdadeiros, mas subestimar o sofrimento do povo também não é nada inteligente, ou melhor, é uma violação aos direitos humanos, se é que me entendem.
“Donos” de votos em bairros e nos distritos, os vereadores devem ficar atentos para outra situação. Além da busca da propalada governabilidade por parte do prefeito, afrouxando pelo voto da maioria a fiscalização da oposição comprometida com os interesses populares, as eleições do ano que vem precisam ter cabos eleitorais. Existe quadro melhor do que os vereadores? Pode também ser este mais um motivo da tentativa de causar rompimento dentro do bloco oposicionista
Por enquanto, o grupo continua firme, mas como a “carne é fraca” pode ser que algum não resista e se deixe levar pelo “canto da sereia”. Mas perder a maioria, o bloco oposicionista garante que não vai!

Cristina Esteche

Jornalista

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