22/08/2023
Política

ELEIÇÕES INTERNAS: “Queremos recolocar o PT como um partido vibrante”, diz Pessatti

Curitiba – Candidato a presidente estadual do Partido dos Trabalhadores, o historiador Márcio Pessatti aborda, em entrevista, as razões de sua candidatura e quais são as suas propostas para o PT.
“Queremos aumentar a nossa bancada de deputados estaduais e deputados federais, além de eleger a primeira senadora do Paraná”, afirma Pessatti. “Essa é uma tarefa fundamental para a próxima direção.”
Márcio Pessatti é candidato pela chapa “Compromisso com a Revolução Democrática: Uma Mensagem Socialista”, que tem como membros o deputado federal Dr. Rosinha, o deputado estadual Professor Lemos, a presidente da APP-Sindicato, Marlei Fernandes, o prefeito de Porto Barreiro, João Costa, e a vereadora curitibana Professora Josete, entre outros.
Marcado para o próximo domingo (22), o chamado PED (Processo de Eleições Diretas) renovará todas as instâncias de direção do partido, além de eleger delegados para o 4º Congresso do PT, que acontecerá em 2010. Pessatti apoia a candidatura de José Eduardo Cardozo a presidente nacional do PT.
A respeito de eventuais alianças no Paraná, o candidato à presidência estadual do partido defende o diálogo com os partidos da base de sustentação do governo Lula, mas com a candidatura própria “como possibilidade prioritária”.
“O futuro presidente do PT precisa ser um presidente de todo o partido. Queremos recolocar o PT como um partido vibrante, com estratégia política definida.”

A seguir, a íntegra da entrevista.
Porque você quer ser presidente do PT?
Márcio Pessatti – O projeto construído pelo o grupo político do qual faço parte é, na minha avaliação, o mais apropriado para o partido, nesse momento histórico que vivemos. Além disso, terei disponibilidade para dirigir o partido em tempo integral. Não sou candidato a nada no próximo ano. E o PT precisa de um conjunto de dirigentes com dedicação exclusiva, para ajudar o partido a enfrentar o difícil embate que teremos em 2010. E a nossa relação histórica com os movimentos sociais precisa ser fortalecida. Por tudo isso, quero ser presidente do PT no Paraná.

Qual o projeto estratégico que você defende para o PT do Paraná?
Márcio Pessatti – Queremos que o PT conclua sua transição histórica, de um partido que nas décadas de 1980 e 90 foi de grandes lutas e enfrentamentos, para um partido que não perca sua relação com os movimentos sociais, mas que a concilie com um projeto de governo, e que se construa definitivamente como uma alternativa. Essa é uma transição necessária que ainda falta no Paraná, onde o PT, diferentemente de outros Estados, é um partido que vai perdendo a sua referência nos movimentos sociais e, ao mesmo tempo, como se isso não bastasse, não tem se colocado efetivamente como alternativa de governo.

O povo do Paraná, assim como o povo brasileiro, que hoje vive a experiência de um governo em que o PT tem grande influência, merece viver um experiência que irá colocar temas importantes para os trabalhadores em pauta.

Quais serão as prioridades de sua gestão?
Márcio Pessatti – Serão as prioridades do próprio partido. Um dos primeiros movimentos que faremos será a construção de um planejamento estratégico para o PT, de curto e médio alcance. Isso eu vou levar a risca, e vou me empenhar ao máximo para cumpri-lo.
O que vou defender é o que também pensa esse agrupamento político, que é a Mensagem ao Partido e a DS (Democracia Socialista). Precisamos fortalecer as instâncias partidárias, construir uma relação orgânica entre a direção estadual e as direções municipais, e com os movimentos sociais.
As microrregiões nem sempre são encaradas como instâncias do partido, não podem ter outra referência que não o planejamento do partido e a direção do partido, e não de mandatos isoladamente. É preciso estar mais próximo dos diretórios municipais, viajar esse Estado inteiro periodicamente, construindo planejamento, fazendo orientações, dialogando com a militância, ocupando espaços na mídia, para que a gente possa ter uma maior valorização dos diretórios municipais.
Embora tenhamos feito cinco plenárias macrorregionais, precisamos dialogar em outro patamar. Precisamos colocar em prática as indicações que o movimento social já fez nessa primeira rodada de debates. Precisamos dar mais apoio aos nossos vereadores, prefeitos, vice-prefeitos, às administrações petistas.
Vamos democratizar os recursos do PT, recursos humanos e financeiros, principalmente nos momentos dos processos eleitorais. Precisamos ter um partido muito forte para disputar as eleições de 2010. O PT deve coordenar a campanha da Dilma no Estado. Este é um período inigualável na história recente do país e do partido.
Queremos aumentar a nossa bancada de deputados estaduais e deputados federais, além de eleger a primeira senadora do Paraná. Essa é uma tarefa fundamental para a próxima direção. E vamos continuar dialogando com os partidos da base de sustentação do governo Lula, para constituir uma chapa se possível de consenso e, ao mesmo tempo, com a candidatura própria colocada como possibilidade prioritária.
E, para as eleições de 2012 e 2014, precisamos destacar diversos companheiros e companheiras em diferentes regiões do Estado, para ajudar a dirigir o processo eleitoral. O PT se apresentou candidaturas próprias em menos de 30% das cidades do Paraná em 2008. Precisamos lançar mais candidatos próprios.

Como a militância petista tem recebido sua candidatura e suas propostas?
Márcio Pessatti – Nós estamos falando o que já defendemos há muito tempo, como essa necessidade de uma reaproximação da direção estadual com o conjunto do partido espalhado pelo Paraná. Nós precisamos voltar a construir com uma visão não de força política. A relação não é de uma força específica com as direções municipais ou vereadores e prefeitos. Temos que superar essa dicotomia.
O futuro presidente do PT precisa ser um presidente de todo o partido. Esta é a nossa postura, com o devido papel que vamos desempenhar. A recepção é sempre boa, quando a gente fala da democratização, da transparência, de incentivar as candidaturas próprias, de recolocar o PT como um partido vibrante, com estratégia política geral bem definida e um grande consenso interno de colocar o PT para definir essa tarefa.

Poderia citar algumas das lideranças que apoiam sua candidatura para presidente estadual do PT?
Márcio Pessatti – São inúmeras, posso citar algumas, entre elas o deputado federal Dr. Rosinha, o deputado estadual Professor Lemos, a vereadora curitibana Professora Josete, a Marlei Fernandes, que preside a APP, o vereador de Toledo Paulinho da Saúde, o Igo Martini, do movimento LGBT, o prefeito João Costa, de Porto Barreiro, e muitos outros militantes do Partido dos Trabalhadores.

Como você tem avaliado os debates desse processo eleitoral interno do PT?
Márcio Pessatti – Os debates têm sido bons enquanto apresentação das teses, mas a participação dos filiados poderia ser maior. Trata-se de um instrumento importante de mobilização do PT, para pautar os temas importantes da conjuntura.

Como você analisa o governo Lula?
Márcio Pessatti – O governo Lula foi capaz de interromper a herança maldita de 500 anos de exploração, de um Estado absolutamente deficitário do ponto de vista estrutural e entregue ao projeto neoliberal internacional, e o fez com bastante soberania. Ao fazer isso, passa também a interferir na América Latina com uma qualidade inédita. Interfere positivamente na autonomia e construção de novos governos de centro-esquerda, democráticos e populares no continente.
Quando acontece uma interrupção da produção de petróleo na Venezuela, por exemplo, o Brasil de forma solidária manda um navio pra lá; quando Evo Morales se encontra num impasse, com a tentativa de grupos de instabilizar o seu governo, Lula e os demais chefes de Estado entram em ação. Hoje o Brasil está de fato construindo o Mercosul, e não apenas como integração econômica.
Vale lembrar que em relação à Alca, derrotada antes da posse de Lula, o PT teve um papel fundamental, junto com os movimentos sociais.
A América Latina mostra hoje que tem autogestão. Com o Equador, com a mediação da crise em Honduras, o olhar sobre o Brasil é não o de um país que domina a política latino-americana, mas que de forma solidária busca construir um continente autônomo.
O Brasil tem hoje um papel fundamental, em fóruns como o G20, nas relações comerciais e sociais com a África, a Ásia, o Oriente Médio, temos condições de nos apresentar com autonomia, independência e capacidade de dirigir a política internacional.
Internamente, o governo Lula priorizou as políticas de inclusão social, de educação, como a questão da participação dos negros e negras no ensino superior e a criação de novas universidades federais, algumas delas inclusive no Paraná.
Nunca tivemos tantas conferências sobre políticas públicas no Brasil. Mantemos a importância dos bancos públicos, Correios, Petrobras, agora temos o pré-sal. Na área social e da participação popular, conquistamos muito.
Para a próxima campanha eleitoral, precisamos ampliar os direitos conquistados, seguir na produção de mobilizações a favor de bandeiras como a da jornada de trabalho de 40 horas semanais, a valorização do salário mínimo, mais instrumentos de participação popular, capazes de fato de definir o perfil das políticas públicas a serem implantadas no país.
Temos hoje um governo que já está marcado para toda a história do Brasil. Que foi capaz de interromper um ciclo negativo e de reconstruir a esperança. De janeiro a agosto deste ano, mesmo com a crise, criamos um milhão de novos empregos. É uma recuperação econômica, com programas importantes como o PAC, o Minha Casa, Minha Vida.
Mas existem muitos problemas sociais, que precisam de ainda mais investimentos, de mais atenção. E é essa transição, dos dois governos do presidente Lula para o governo da companheira Dilma. Com mais mobilização, vamos ampliar as conquistas, que são frutos não apenas da ação do governo, mas da própria luta social dos brasileiros.

Qual sua avaliação do salário mínimo atual?
Márcio Pessatti – Desde o início do governo Lula, em 2003, o reajuste do salário mínimo chega a 72%, com um aumento real acumulado de 46%. É claro que o valor de R$ 465 ainda está distante do salário mínimo necessário apontado pelo Dieese, que seria de aproximadamente R$ 2 mil para uma família de quatro pessoas, mas é muito superior ao valor do governo FHC.
No governo tucano, houve época em que o salário mínimo não comprava uma cesta básica sequer. A atual política de aumentos reais do mínimo tem contribuído para reduzir a miséria e distribuir a renda no país.

Qual a sua avaliação do governo Requião?
Márcio Pessatti – A partir de 2003, Requião interrompe um governo neoliberal, que era um verdadeiro laboratório, com a redução do Estado, privatização, enfim. No entendimento de Jaime Lerner e do grupo que o sustentava, o mercado era que devia regular o Estado.
O governo Requião interrompe esse processo, amplia os projetos sociais, tem um diálogo mais programático com setores dos servidores públicos, com importantes conquistas de categorias e uma abrangência em algumas áreas de políticas públicas e sociais.
Porém, o que nós vemos no Estado é que, com essas políticas, não existem ou são muito precárias as formas de participação popular dentro do atual governo. O governo Requião tende a ser um democratizante, mas ainda não consegue ser efetivamente democrático. As relações com os movimentos da sociedade são pautadas por instrumentos muito pontuais, não por uma política pública, governamental, de participação popular.
Esta é uma das maiores ausências que se nota nesse governo.
Há uma tendência de resolver pontualmente as questões, e não de fazer grandes debates estaduais ou de seguir a orientação de resoluções aprovadas em conferências.
É um governo que, por um lado, tem acertos importantes, mas por outro, não é pedagógico no processo. Imaginar que o governo possa ser capaz de substituir os movimentos sociais, de resolver pelos trabalhadores os seus problemas, é não entende o papel pedagógico do Estado, de construir, em conjunto com a sociedade, instrumentos de participação ,de diálogo com a população, de disputar as ideias e criar coletivamente uma nova consciência.

Quem é Márcio Pessatti
O historiador Márcio Pessatti, 48, já exerceu as funções de secretário-geral, secretário dos Movimentos Sociais e de vice-presidente do estadual PT. Foi inclusive presidente em exercício, em 2000.
Na última década, Pessatti coordenou diversas campanhas eleitorais e processos de elaboração de programas de governo de candidatos petistas em eleições municipais e estaduais.
Ligado à área cultural, atuou como ator e diretor de peças de teatro. Atualmente, ministra oficinas de teatro popular em cidades do interior. Iniciou sua militância na Pastoral Operária, em Curitiba.

Para saber mais:
www.marciopessatti.blogspot.com

Cristina Esteche

Jornalista

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