A transição de poder em qualquer esfera do governo é um processo complexo, mas quando um prefeito assume o cargo sucedendo grupo político adversário, os desafios se multiplicam. Tenho percebido isso – e não é de agora – ao conversar com vários prefeitos da Região de abrangência do Portal RSN e, como consequência, deste blog.
Percebo que o discurso da continuidade administrativa, tão essencial para garantir serviços públicos de qualidade, muitas vezes se perde em meio a um ambiente de sabotagem velada e disputas partidárias. O resultado? Quem paga a conta é sempre a população.
Um dos maiores problemas que um novo prefeito enfrenta é a realidade financeira do município. Muitas vezes, os gestores que deixam o cargo divulgam saldos positivos, alegando que estão entregando a administração com dinheiro em caixa. No entanto, essa ‘contabilidade criativa’ costuma omitir o essencial. Ou seja: os valores anunciados já estão comprometidos com despesas não pagas, restos a pagar e contratos firmados. Essa realidade deixa o novo gestor sem margem para investimentos e até mesmo para manter serviços essenciais.
Esse tipo de prática compromete o planejamento do novo governo. E, pior, cria uma percepção distorcida na opinião pública. O novo prefeito se vê sendo taxado de ineficiente, de não saber gerir os recursos. Quando, na verdade, cai numa armadilha financeira.
Desmonte de programas
Outra estratégia comum é o desmonte de programas em andamento. Prefeitos que saem do cargo, especialmente aqueles que perderam a eleição, costumam encerrar iniciativas de impacto social. Além de cancelar contratos de fornecedores e desarticular equipes técnicas. Isso obriga o novo governo a recomeçar do zero, atrasando o funcionamento da máquina pública.
Além disso, a falta de continuidade pode prejudicar políticas públicas essenciais, como saúde, educação e assistência social. Projetos que estavam em andamento ficam interrompidos.
E a População? Refém da Disputa Política
Enquanto esses jogos políticos acontecem, a população fica à deriva. A qualidade dos serviços cai, as promessas de campanha se tornam difíceis de cumprir e o sentimento de frustração com a política só aumenta. A cada eleição, os cidadãos são convencidos de que uma nova gestão trará soluções. Mas a realidade muitas vezes é de retrocesso devido à falta de compromisso com a continuidade administrativa.
Amadurecimento político
A solução para esse problema exige um amadurecimento político por parte dos gestores e da sociedade. A transparência na transição de governo deveria ser obrigatória. Fiscalizada de forma rigorosa pelos órgãos de controle. Além disso, a população precisa estar atenta. Cobrar dos representantes compromisso com a gestão pública, independentemente da afiliação partidária.
A administração municipal, portanto, não pode ser vista como um feudo político onde cada governante faz o que quer, sem responsabilidade com o futuro. O compromisso deve ser com a cidade e seus habitantes, e não com interesses eleitorais de curto prazo.
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