22/08/2023
Brasil

O vermelho do sangue!

Nunca escondi que sou petista e costumo dizer que o meu sangue é vermelho duas vezes: uma, porque essa é a cor que corre pelas minhas veias, outra por ideologia, embora não tenha mais militância politico-partidária, por opção.

Sempre acreditei num mundo melhor para todos, com inserção social, distribuição de renda, participação, coletividade, justiça social. Lutei e luto por isso, porque acredito.  

Aliás, acreditar, confiar nas pessoas está no meu DNA, embora sempre quebre a cara por causa disso, mas não me importo. O que vale é que eu cumpro o que assumo até as últimas consequências, porque sou uma mulher que acredita no poder das palavras. Digo isso num momento de reflexão, próprio de quando me fecho em mim mesma. Tipo assim  fechar pra balanço, pra poder discernir o momento, como este que acontece agora no Brasil. Estamos vivendo a Semana da Páscoa, do julgamento humano sobre um ser imortal: Jesus Cristo, pra mim um dos maiores revolucionários que o mundo já conheceu. Estamos vivendo um momento de crucificação, de malhação a Judas, escolhido pela minoria da população brasileira. Não quero ser mal interpretada tentando comparar este Àquele. Seria muita pretensão. O que desejo dizer é que numa analogia factual, estamos retornando à época da Inquisição, da saga da Paixão, de forma parcial. Ao “inimigo”, o calor voraz das chamas; aos coniventes com a ideologia de quem julga, as benesses do anonimato. Me refiro ao vazamento midiático da quebra de sigilo de conversas; a lista da Odebrecht, hoje sob sigilo judicial. Me refiro ao rigor tendencioso de parte do judiciário; me reporto à grande mídia orquestrada, sempre, por interesses que servem à uma facção fascista, sempre em nome da minoria que acredita ser dominante.

Não quero aqui isentar este ou aquele de possíveis culpas. Não sou ingênua ao ponto de acreditar que não existam culpados, como também sei muito bem que derrubar um governo popular e inviabilizar uma nova candidatura do líder mais popular que o país já teve são interesses predominantes. O alvo são pessoas que o povo, em sua maioria, elegeu. Ir contra essa vontade é golpe, sim! Afinal, quando não se tem as Forças Armadas que implantaram a ditadura militar no país, a saída é o golpe midiático, do judiciário, da massificação que leva à repetição do que se ouve, sem discernimento, sem interpretação.

Justificar corrupção é voto vencido. Outros que aí estão cometeram erros maiores, crassos, graves – redundância é proposital – , e nem por isso foram julgados, pelo contrário. Mas reconhecer a falta de alguém da mesma trupe é algo que foge à capacidade dos iguais, embora não seja a regra, mas a exceção. Seria admitir o próprio erro, de forma maciça. E aí, nessa camada, todos se acham no direito de jogar a primeira pedra. Basta ver que aqueles que saem às ruas pelo impeachment da Presidente, em momento algum pedem punição para Eduardo Cunha, o “líder” que está atolado em denúncias e comprovações. Que está aí comandando o processo de impeachment quando deveria ser ele o cassado;  de Aécio Neves que pedala em denúncias; e tantos outros, bem perto de nós.

O fato é que vivemos o tempo de uma saga milenar, onde as conquistas sociais, a ascensão econômica dos pobres, está sendo apedrejada, aviltada, e seu mentor, o governo,  está sendo cruxificado. A coroa de espinho faz sangrar a democracia.  As cenas deste momento da história, que inclui uma crise econômica que é mundial, passam à frente dos nossos olhos de forma deprimente. Será que estamos vivendo uma guerra civil onde a intolerância impede que se use determinada cor, no caso o vermelho, sob a pena de ser achacado? Onde corre-se o risco do seu filho não ser atendido por médico, como aconteceu recentemente no Rio Grande do Sul onde uma mãe teve o atendimento médico negado ao seu filho por ser do PT? A que ponto chegamos? A uma ditadura ideológica eletista?

Como disse anteriormente, sei que há bons e maus que se mesclam num mesmo espaço. Sei que há interesses escusos, mas sei também que muitos são verdadeiros, convictos. Por isso, a minha ideologia por um mundo melhor, mais humanos, mais justo, continua viva, ardente, ressuscitada. Por isso meu sangue é vermelho. Tinge o amor, a solidariedade, a luta pela justiça social, a igualdade. É assim, e para sempre será!

Cristina Esteche

Jornalista

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