22/08/2023
Brasil

Quando o amor dita a regra

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As Paralimpíadas nos dão mais uma lição. A superação do atletas que possuem limitações, seja ela qual for, nos mostra que não há limites quando a vontade de fazer acontecer fala mais alto. Recebemos essa lição diária há 14 anos. E quando falo no plural, me refiro a nós como família. Há 14 anos nascia o Lorenzo, um bebê planejado, com tudo feito certinho. Luana e Victor trocaram a vida agitada de Curitiba, entre trabalho, faculdade, estágio, pelo dia a dia mais tranqüilo de Guarapuava. Enxoval perfeito, quarto decorado, gestação saudável. Mas eis que o destino nos prega uma peça, aquela que ninguém imagina que vai acontecer com a sua família. O Lorenzo nasceu prematuro, de oito meses. A obstetra demorou para fazer a cesárea. Foram horas e horas. O bebê nasceu e até então a notícia que tínhamos era que tudo estava muito bem. Mas instantes depois começou o martírio. Informações desencontradas, médicos que se omitiam em falar, transferência para hospital de Curitiba, falta de prontuário médico, falta de oxigenação no cérebro, infecção hospitalar, hepatite, artrite, derrame debaixo do sistema nervoso central, transfusões de sangue…. essas foram apenas algumas das complicações.

Mas a vontade de viver falou mais alto. O amor, o carinho, a dedicação, a busca incessante pela melhoria de qualidade de vida fazem parte da receita diária consumida pelo Lorenzo. São idas e vindas pelo Brasil afora em busca de recursos que contribuam para o desenvolvimento motor, muito comprometido. E o Lorenzo dá a resposta. Neste ano ele conclui o ensino fundamental. Ensaia palavras em inglês e entende o espanhol: o que o Messi não provoca num fã inveterado?!  É motoqueiro, torcedor do Barsa, do CAD e do Placar Futuro. Ah! E diz que é argentino. Acho que o sangue dos nossos ancestrais latinos correm mais forte nas suas veias.
Mas o Lorenzo é assim. Um guerreiro que nos ensina que não existem barreiras quando se quer vencer. Que as diferenças existem, sim, e que estão aí para serem entendidas, respeitadas. Que as cores das bandeiras servem para unir e não para destruir. Que os obstáculos materiais que hoje vemos na televisão e que são superados pelos atletas que disputam no Rio de Janeiro apenas traduzem um pouco da luta diária de superação.
Afinal, a acessibilidade ainda não pauta os discursos e as ações políticas com a devida atenção que merece. A inclusão escolar, social, esportiva, urbana, ainda é um tema ácido. Existe, mas engatinha e com preguiça.  
Em tempo de eleições, de Paralimpíadas no país, é preciso que a nação aprenda uma uma lição que a vida dificilmente ensina: respeitar as diferenças. Esse é o primeiro passo para construir uma sociedade mais justa.

 

Cristina Esteche

Jornalista

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