22/08/2023
Brasil

Quem vestiu a Globeleza?

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Qual “moleque” de 13 anos que não parava, seja lá o que estivesse fazendo, quando o som da TV mudava de qualquer coisa para o sonoro e harmonioso “Lá vou, lá vou eu…”. Sim! Era ela, o ícone da sensualidade estampada nas telas do PLIM PLIM, era o mais perto da Playboy que muitos adolescentes poderiam chegar, era como se o mundo parasse de girar e a Globeleza fosse a nossa musa inspiradora pelo resto do dia, ou até aquela maravilhosa visão, voltasse a ser convidada através do famoso jingle…

Difícil pensar que em um momento onde a luta pela liberdade do corpo, da sexualidade e principalmente a das mulheres, o maior sexy simbol brasileiro está, devidamente VESTIDA. Isso mesmo senhoras e senhores, adolescentes e ex-adolescentes, a Globeleza está de roupa. Seria uma jogada de marketing? Uma mudança visando harmonia com as denominações religiosas? Nova visão espiritual dos idealizadores? Acredito que não. Em um passado não tão distante, onde tudo tinha seu tempo, e os pais ajudavam a respeitar o tempo do tempo. um adolescente de 13 anos que via a Globeleza com o corpo pintado estava começando a vivenciar o natural da descoberta do seu corpo e do corpo do outro, e era uma fase, que seria sanada com a próxima fase, e que assim por diante em seu devido momento segregaria passo a passo a chegada da sua vida adulta.

Com a correria do mundo, as novas tecnologias sem respaldo nem controle, houve uma “adolescentização” da juventude, onde os adolescentes tomaram para si os processos que seriam da fase subsequente, ou seja, as ações dos que tem entre 12 e 15 como paquera, troca de cartas de amor, primeiro beijo, deram lugar as ações dos jovens a cima dessa idade, como o namoro, a descoberta do álcool e outras drogas, a perda da virgindade, o sexo e muitas vezes, a gravidez precoce. Muitos adolescentes realizam essas ações por motivos diferentes, que vão desde por influência de terceiros a não se sentir mais criança e querer parecer “adulto” perante a roda de amigos até chamar atenção dos pais que na maioria das vezes estão ocupados e esquecem que tem um filho dentro de casa.

A preocupação é com a mansidão bovina com que os pais andam oferecendo: as diversas tecnologias cada vez mais cedo, e sem a menor responsabilidade de filtrar o que os filhos veem, e sem uma real educação sobre tempo, limites e responsabilidade. Assim teremos uma infância totalmente perdida, e muitos perguntarão onde foi que erramos? Não existe um erro coletivo, mas sim um erro comum, o problema não é vestir a Globeleza, o problema e despir o resto do senso de tempo que acaba por trazer o erro de pular as fases de crescimento de um individuo. Afinal pra que despir a Globeleza se qualquer criança de 10 anos sabe o que “shipar”, “crush” e tem acesso à infinidades de “nudes”? Ainda vão te perguntar: Qual aplicativo eu baixo essa tal de Globeleza!?
 

(*) Marcio Teixeira tem 28 anos, é professor e agente cultural de Guaraci, aqui mesmo no Paraná. Esta é sua estreia na coluna independente da RedeSul de Notícias.

Cristina Esteche

Jornalista

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