22/08/2023




Cotidiano Em Alta Guarapuava

Com problema judicial, prédio do ‘Rio Branco’ está à venda

Rio Branco é um dos mais tradicionais clubes sociais e culturais de Guarapuava, próprio da cultura negra, mas enfrenta ações de usucapião

Clube Rio Branco (Foto: Dario Martins/RSN)

*Conteúdo atualizado às 18h30 desta quinta (8), para omissão de nomes a pedido das advogada da parte interessada.

Placas de imobiliárias anunciando a venda do imóvel do tradicional Clube Rio Branco chamam a atenção. Localizado na rua Coronel Saldanha, 2071, no Centro de Guarapuava, o prédio que há anos não tem manutenção, guarda memórias culturais e recreativas da população preta da cidade.

No entanto, o clube fundado em 28 de setembro de 1919, por Bento José da Silva, passa também por questões judiciais. Há 25 anos, um dos ex-presidentes colocou a família para morar nos fundos do Clube. Essa família mora no local até os dias de hoje e requer a posse do imóvel.

De acordo com o advogado Piero Sousa Pinto, que defende o Clube numa de outras ações de usucapião, hoje a atual diretoria presidida por Carlos Eduardo Burkhard, buscou um acordo com  a moradora que reivindica o direito de posse.

Estimado em R$ 1,5 milhão, de acordo com avaliações imobiliárias, a ideia é vender o prédio, quitar dívidas com IPTU, fazer a regularização da área e outros compromissos, e dividir o valor restante. “A proposta é de que 50% vá para ela e outros 50% ficam com o clube”.

Conforme o advogado, a intenção do presidente, caso a venda se efetive, é comprar outro imóvel para o Rio Branco. Entretanto, paralelamente, ainda tramita o pedido de usucapião na Vara Cível de Guarapuava. “O juiz também não homologou a proposta do usucapião e o Clube pode ter ganho de causa, ou o contrário”.

De acordo com as advogadas da autora do processo, essa última ação de usucapião, Elizandra Garcia e Lucimara dos Santos B. Motter, a mulher ela mora no local há mais 25 anos. As advogadas confirmam que houve um acordo amigável para venda do clube e a divisão do valor, de 50% para cada lado.

MEMÓRIA

A história do Rio Branco se confunde com a memória carnavalesca de Guarapuava. Foi lá que nasceram as escolas de samba da cidade ‘Vou ali e volto já’ e ‘Já te aliso’. Transformado em associação cultural, o Clube já sediou aulas de capoeira e outras manifestações próprias da cultura negra. Em 2014, descaracterizado por uma diretoria, também já foi ‘bailão, academia de musculação e salão de festas’.

Mas de lá para cá, herdeiros de Bento da Silva, com o filho dele Josoel de Freitas e o neto de Bento, Dudu do Contempla, lutam para preservar décadas de história. Em 2014, por exemplo, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) reconheceu o Rio Branco como patrimônio imaterial da cultura negra no município. Pauta de pesquisas acadêmicas, o Rio Branco está no foco do historiador Sandro Luiz Fernandes, e outros. Sandro publicou artigo narrando a história. Ele é bisneto do fundador do clube.

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Cristina Esteche

Jornalista

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