O feminicídio de Tatiane Spitzner, que comoveu o Brasil em 2018, chegou ao fim no campo criminal. Isso porque a Justiça brasileira confirmou a condenação de Luis Felipe Manvailer, ex-marido da advogada, como definitiva. Sem possibilidade de novos recursos, ele cumprirá a pena de 31 anos, 9 meses e 18 dias de prisão.
Mas o caso ainda não chegou ao fim moral. Mesmo condenado por matar a esposa, Manvailer tenta, por vias legais, garantir parte da herança de Tatiane. Trata-se de uma ação que expõe o grau de distorção ética e jurídica ainda permitido no sistema judicial brasileiro. A defesa da família da vítima já anunciou que pretende impedir judicialmente qualquer benefício ao assassino.
De acordo com os advogados da Família Spitzner, Gustavo Scandelari e Diana Geara, eles irão retomar as ações cíveis contra o condenado. O objetivo é impedir que ele receba qualquer valor da herança da mulher que matou e buscar indenização por danos morais à família.
Conforme Diana Gera, Manvailer resistiu a qualquer tentativa de acordo, inclusive quando ainda era possível negociar fora da Justiça a exclusão dele da herança.
Infelizmente a postura do Manvailer nunca foi amistosa. Tentamos um acordo para evitar a judicialização, mas ele recusou. Agora, a Justiça precisa se pronunciar também na esfera cível.
A herança deixada por Tatiane é pequena, conforme avaliam os advogados. Mas para a família, o que está em jogo é a dimensão moral do caso. Além disso, a defesa pretende reativar o processo de indenização por danos morais, que também foi paralisado enquanto a sentença criminal não era definitiva.
“Valor nenhum vai compensar a dor da família. Mas acreditamos na função pedagógica dessa condenação: tanto para ele quanto para a sociedade. O feminicídio precisa ter resposta clara e firme do Judiciário”.
RETOMADA
A partir de agora, com a sentença penal encerrada, os processos suspensos podem ser retomados e a defesa promete agir nos próximos dias. A expectativa é de que a Justiça reafirme o que o próprio caso já grita: não há espaço para o lucro sobre a tragédia, nem para a impunidade emocional de quem destruiu uma vida e tenta, ainda assim, se beneficiar dela.
O crime, ocorrido em 2018 em Guarapuava, expôs com crueldade a realidade de tantas mulheres brasileiras que são mortas dentro de casas, pelos companheiros. Trata-se do retrato de um país onde a violência de gênero é epidêmica. O caso ganhou destaque nacional e internacional não apenas pelo conteúdo chocante das imagens e pela brutalidade da morte, mas pelo padrão que escancarou. A misoginia não é exceção, é estrutura.
FRIEZA

Luiz Felipe Manvailer (Foto: Reprodução/Vídeo Depoimento)
A tentativa de Manvailer de manipular a cena do crime, levando o corpo de Tatiane de volta ao apartamento para simular uma queda acidental, revela não só frieza. Mas uma confiança inquietante na impunidade. Essa sensação de poder que atravessa muitos feminicidas: a ideia de que podem controlar até a narrativa da morte.
O julgamento, ocorrido em 2021 por júri popular, condenou Manvailer por homicídio qualificado, feminicídio, motivo fútil, meio cruel e asfixia. Além de fraude processual. Entretanto, mesmo com a solidez das provas, a defesa insistiu por anos em recorrer da sentença, que agora transita em julgado.
O feminicídio de Tatiane também deixou um marco na política pública do Paraná. O caso motivou a criação do Dia Estadual de Combate ao Feminicídio, celebrado em 22 de julho, dia em que ela morreu. A iniciativa partiu da deputada estadual Cristina Silvestri (PP).
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