22/08/2023
Cotidiano Guarapuava

Artistas guarapuavanos sentem impactos da crise causada pela covid-19

"Vamos seguindo colocando a cabeça para funcionar. Alguns dias nos sentimos animados, mas em outros nada parece dar certo", afirma Rita Felchak

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Os artistas locais se sentem inseguros com a situação (Foto: Reprodução/Pixabay)

A pandemia causada pelo coronavírus tem dificultado a vida das pessoas ao redor do mundo, principalmente daquelas que dependem da aproximação e contato com o público. Ser artista em época de isolamento social é uma tarefa árdua. Isso porque todas as festas, casamentos e congressos foram cancelados, impossibilitando que o trabalho daqueles que atuam diretamente com o público seja feito. Em Guarapuava, os artistas locais têm tentado se reinserir no mercado, mas o cenário não se mostra promissor.

Para o cantor, ator e bailarino guarapuavano Tom Zawa, os últimos dias, ao contrário do que muitos acreditam, têm sido de desesperança para o setor. Apesar de se desdobrar para alcançar o público, não há como fugir da crise.

“Os artistas têm uma leitura de mundo muito aguçada e são sempre os primeiros a sentir um impacto como a crise que estamos vivendo. Há muitos trabalhadores informais e empresas seguindo com muitas dificuldades pra se manter, sem muita garantia do governo”.

É um momento de grande insegurança para quem trabalha com arte. O mesmo sentimento de Tom é compartilhado pela Felchak Produções, uma empresa conhecida em todo o país pelas atividades artísticas, sendo referência. Porém, com o isolamento social, o grupo precisou cancelar mais de 15 eventos que estavam programados para os próximos dias. De acordo com Rita Felchak, não há perspectivas de mudanças.

Além disso, o grupo ministrava aulas no espaço físico que foi inaugurado em 2019. Mas, assim como a outra fonte de renda, as aulas precisaram ser adiadas. Na família de Rita, todos estão sem ganho, pois trabalham com arte. Segundo a proprietária da Felchak, nos 25 anos de mercado jamais imaginou uma situação como esta.

“São 10 pessoas que trabalham diretamente com a gente na Felchak. Algumas delas conseguiram ajuda emergencial do governo, outras não. Então, não tem outro sentimento além da insegurança. É um momento em que precisamos reorganizar nossas prioridades para poder sobreviver”.

REINVENÇÃO?

O que eu mais ouço agora é que “todos precisamos nos reinventar”. Nos reinventar como? Com fome? Com medo? Sem nenhuma segurança financeira e à beira de um colapso em nosso sistema de saúde? Não acho que neste momento de emergência os artistas tenham a obrigação de se reinventar.

Este, é o retrato da indignação de Tom Zawa quando se fala na necessidade de reinvenção. A pergunta que assombra os artistas locais é como ter forças para se reinventar em meio as incertezas. O que parece uma solução óbvia para quem vê de fora, se torna uma tarefa complicada para os artistas.

“As pessoas acham que é fácil alcançar o público pela internet, mas não é. Todas essas coisas também exigem investimento, muito trabalho. As pessoas me falam para dar aulas, mas não se torna um bom professor do dia pra noite. E ainda que isso acontecesse, onde estão os alunos?”.

No caso da Felchak, Rita comenta que a equipe está diariamente tentando se reinserir no mercado, seja por meio de lives, venda de produtos ou até mesmo a ajuda dos amigos, que estão organizando uma feijoada.

“A gente tem uma ideia, coloca no papel e tentamos, vamos seguindo colocando a cabeça para funcionar. Alguns dias nos sentimos animados, mas em outros nada parece dar certo. Uma coisa é certa, são tempos difíceis para a classe artística”.

TRANSFORMANDO A TRISTEZA EM ARTE

Em contrapartida, algumas pessoas estão aproveitando os sentimentos aflorados durante a quarentena e se inspirando para produzir. Esse é o caso de Antunes, um cantor guarapuavano que lançou a música Novo Sol para compartilhar com o público como estão sendo os últimos dias.

Além da faixa, está utilizando todo o tempo livre para trabalhar no EP que deve lançar ainda esse ano. “Quando surge um gancho com algo que eu estou vendo, fazendo e sentindo, escrevo uma música, mas também estou me dedicando aos covers“. Como sempre trabalhou com a internet, não tem sentido tanto impacto profissional, mas encontra dificuldades em encontrar inspiração.

As pessoas estão consumindo muito o produto on-line, o meu cenário, especificamente, não foi tão atingido do mesmo modo que o das pessoas que precisavam de shows e festas para sobreviver. Então somos afetados dessas duas formas: falta sair para respirar e usar a criatividade nas produções e, claro, o impacto financeiro para quem não pode trabalhar.

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Sabrina Ferrari

Jornalista

Graduada em Jornalismo pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) em 2018. Mestre pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Letras da Unicentro. Possui experiência na área de reportagem, com ênfase em textos mais voltados para cultura, moda, turismo e comportamento.

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